domingo, 31 de janeiro de 2010

Sou céu.


Todos os dias, eu sento na cama e penso: preciso escrever.

Esses sentimentos todos que se misturam dentro de mim se perdem em cada palavra que deixo de anotar.

Como se minha vida não tivesse mais importância ela vai passando como uma projeção pela janela do meu quarto novo. Eu pensei que talvez fosse essa esperança mal acabada que iluminou meus dias desde que conheci, sentada em um banco, o barulho de um mar que me trazia todas as respostas das perguntas que eu nunca ousei fazer.
E as respostas, viram dúvidas. E as dúvidas ensurdecem meus ouvidos e fazem do mar um plano de fundo que acalenta e acalma meu coração, cansado dessas incertezas.

Eu quero é ir-me embora. Eu cansei de ser céu, sob um chão em que pés pisam duros e onde não ousam tirar os sapatos. Eu quero sentir. Eu preciso tocar.

Eu vivi meus últimos anos fugindo desses toques. Dessas dores. Desse chão de pedra. Eu quero um lugar onde meus pés se misturem fartos com a natureza, onde eu seja o céu, a tocar meus dedos entre a areia branca e quente que faz meu sangue pulsar, onde eu possa me sentir viva e acreditar mais uma vez em mim.

Eu quero isso, eu quero vida. Acreditar em mim. Em nós. Eu preciso disso.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Primeiro desenho.

Alice da janela do quarto consegue contar todas as estrelas que seus olhos alcançam.
Ela, imóvel, contém todos os sentimentos.

Soube que essa era a primeira noite de um ano novinho em folha. Que aquelas estrelas, tanto quanto ela estranhavam o cheiro de novo que pairava no ar.
Tentou fazer uma lista enumerando o que queria esse ano. Mas se ateve, ela não queria nada que pudesse descrever em palavras.

Por trás de todas essas coisas que desejamos está sempre aquilo que não se mostra, todo desejo subentende uma coisa que se revelada faria os pêlos do corpo se erguerem em um horror frenético, como se estivessem a fugir da pele que esconde tamanho segredo.

É que ninguém quer acabar o primeiro dia do ano vendo noticiário. E Alice, cansou do cinza da solidão. Ela desenhou esse ano em um albúm de pintura. E na sua lista fracassada só continha um item. Mais lápis de cor.

E quando lhe faltarem braços pra colorir Mey sempre sabe pôr cor em cada lacuna de sua vida. Ela pensou que agora vai precisar de ajuda, pois serão muitos dias para colorir.

Despreocupada, fechou seu livro colorido em um tom azul escuro, com pontos brilhantes no céu, e soube que alguém jamais teria uma visão como aquela.

Pensou que para as próximas noites ela queria desenhar um parque, um mar. Sorrisos de crianças, e mãos dadas.

Alice nunca soube descrever, só soube ir vivendo.

E ela desenha, o que nunca soube descrever, e nunca teve oportunidade de viver... o amor.