quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Vida e morte

Engraçada essa maneira da vida de se fazer presente.

Ela te cutuca pelas costas, no meio de um dia qualquer te lembrando que você só nota a importância dela quando não mais a tem.

E a perda comprime todos os vãos por onde o ar corre em nosso corpo, e acaba com toda nossa compreensão. Mas eu devia...

É um eterno "mas e se"... tão doloroso. E se ao invés de acharmos que podíamos mudar o destino, simplesmente o mudarmos? Ao invés de perceber a vida na morte, simplesmente vivermos até a exaustão; que é onde cessa com o ritmo de seus passos seus batimentos cardíacos, e onde silencia de vez a voz da esperança.

É sempre um "foi melhor assim"... um conformismo que conforta, que nos torna plastificados, mas nos faz continuar. Nos faz vestir uma roupa preta, sempre digna de nosso estado de espírito, e colocar o despertador às 05h10. O dia acorda. E a vida chama, mesmo que ela não exista mais em um coração que junto enterra um pedaço do seu.

E é assim, todos os dias, em todos os lugares, e não há esconderijo suficiente para tanta incompreensão. Há joelhos que vacilam, e olhos que não se permitem desaguar no meio da rua. Alguém nos ensinou que chorar é fraqueza...

... fraca é essa nossa mania de deixar o futuro pro futuro, porque nessa vírgula ele acabou passar.

domingo, 8 de novembro de 2009

Só... completa.

Eu me descubro só.

Até quando estou cercada de pessoas me dizendo o que fazer, o que não fazer. O que ser, porque, como quando e onde eu estou só.

Dentro de mim a solidão esmaga toda a felicidade. E ela se expande para meus músculos, se irradia em meus órgãos, toma conta da minha vida.

E eu espero pacientemente o dia que outra mão ao tocar a minha, energize cada pedaço queratinizado de minha pele, e arranque de mim toda essa espera absurda na janela da sala.

Eu espero um dia ser completo, ser só... completa.

domingo, 1 de novembro de 2009

Sem vestígios.

Ela se afasta sem dizer adeus.

Todos os dias eu pergunto o significado de todas as coisas em minha vida. As flores perdidas na calçada me anunciam a primavera, e quando eu caminho por elas me sinto pisando na vida curta que foi complexada. Mas sei que não foi em vão. Sei que não é nunca em vão.

É assim também com o amor. Ele reaparece em primaveras e me vejo pisando nele nas fotografias que não tirei. Eu fico esperando em cada flor que nasce que aquela seja a minha oportunidade.

As minhas asas se quebraram da última vez, mas eu aprendi a pedir vôo, eu estou sempre viajando nas asas alheias, e em dias tristes me vejo no cinza da rua pensando porque eu sou tão dependente.

Eu comecei a tecer minhas novas asas, elas são compostas de um tecido frágil, embora muito belo, nas pontas sua costura é reforçada, com brilhantes e verdades. Não é análoga a nenhuma outra asa, nem tampouco homóloga, é só minha, feita de mágoas e quedas, construída de mãos cansadas de sinalizar e continuar parada esperando que alguém a leve. Seu mecanismo de vôo escapa à compreensão de todos os estudiosos da biomecânica.

Eu a estou preparando na mansidão do meu quarto. E junto com ela arqueio meu corpo fazendo nele novos espaços onde elas possam se encaixar. As quero funcionais, de orgão vestigial já basta meu coração, cansado de ser estudado e não compreendido. Cansado de ser somente um índicio dessa minha evolução sem rumo.

Adrienne tem força para erguê-las e colocá-las na altura dos concâvos de minhas costas. E em meus sonhos eu a vejo fazendo, se virando. Alço vôo e a vejo indo embora. Sem nenhum adeus.

Se ela volta, eu nunca posso saber. Quem sabe meu próximo pouso, numa próxima parada.