quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Azar no jogo.

Nunca foi verdade, foi?

Nem a chuva que nos molhava o corpo era verdadeira.
Nem os nossos pés em sincronia, os caminhos que levavam aos mesmos lugares.
Os encontros, casuais ou não.
Os teus olhos no espelho, eu no teu colo, a tua cadeira girando.
Era uma brincadeira. Um jogo que eu sugeri e você aceitou jogar.
Quando cansou, você trocou a fita.
Agora sou um nintendo no armário de alguém que não coleciona videogames.
Sou um atari que se vende pra aproveitar as peças.
Estou em desuso.
Mas na sua casa, pelo teu quarto, pela sala, pela cozinha, nos caminhos que te levam ao banho, na tua cama, com os pés na tua prateleira, no filme que nunca assistimos, eu ainda estou.
Mesmo que o amor não seja um jogo feito pra ganhar.
Que só reste na minha memória gasta de videogame antigo.


Mesmo que este jogo a gente não jogue mais.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Só queria dizer que te amo.

É verdade que as pessoas nunca se satisfazem com nada. Acho até satisfatório, pois a insatisfação move as pessoas. E até que ponto temos que nos conformar com o que a vida nos dá? E se a gente quiser mais, qual o problema em querer sempre mais? Nenhum. Desde que você não esteja pedindo mais do que alguém dispõe pra te dar.
Afinal, reclamamos tanto do sol, mas quando chove abrimos todos o guarda-chuva, reclamamos tanto do frio, mas quando faz sol, queremos todos sombra e abrigo, de preferência com ar condicionado. O que a gente quer, afinal?
Se quiser mais de alguém, que esse alguém seja você mesmo. Se algo que te dou não é suficiente, você ainda pode partir pra procurar um lugar onde obtenha mais. Não pode?

Indagações como esta significam que tá na hora de mandar esse guarda-chuva pro conserto, porque se chover, quem vai se molhar é você.

Dizem que um eu te amo muda vidas, eu acredito, veja por exemplo como mudou essas:

Gabi diz (21:16):

é excesso de compreensao
sempre foi
até pq
EU TE AMO GATA
. C. diz (21:17):
É disso que to falando Brasil
Vcs tão vendo?
Gabi diz (21:17):
eu te amo
pq vc reclama disso?
de ser amada e compreendida
porra
nao da pra te entender tb
. C. diz (21:17):
Mas... é que acho que vc não me ama mais como antigamente.
é pq eu te amo tb. então não sei talvez deva fechar esse guarda-chuva dos corações.
Gabi diz (21:18):
Foi vc q mudou
pq eu nao pude ir no Belas cntg
acha q nao sei?
desde semana passada isso
. C. diz (21:18):
mas sabe... era importante pra mim
vc nunca me acompanha.
Gabi diz (21:19):
Mas eu nao pudePORRA
NAO pude
. C. diz (21:19):
pq?
Gabi diz (21:19):

pq...
. C. diz (21:19):
oq era mais importante q eu?
Gabi diz (21:19):
pq nao pude
. C. diz (21:19):
tá vendo como vc nao me ama?
Gabi diz (21:19):
eu te amo
mas nem tudo é simples assim
esses filmes q vc quer ver as vzs
q vc quer q eu entenda
porra
. C. diz (21:19):
HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA
Gabi diz (21:20):
eu nao saco nada de cine europeu
nao da
Gabi diz (21:20):
tá vendo?
. C. diz (21:20):
se vc me amasse mesmo
Gabi diz (21:20):
tá histerica
rindo da minha ignorancia
viu?
por isso nao falei antes
. C. diz (21:20):
vc iria comigo... ver os cisnes
talvez eu nao tivesse ficado me sentindo o patinho feio lá
Gabi diz (21:20):
mulheres... nunca satisfeitas em serem amadas
. C. diz (21:21):
olha... eu acho que vc ta com outra.
é a menina da tabacaria, né?
Gabi diz (21:21):
EU?
. C. diz (21:21):
por isso vc vive indo lá
Gabi diz (21:21):
ela é casada
. C. diz (21:21):
não tá percebendo?
Gabi diz (21:21):
como vc é imaturta
. C. diz (21:22):
q vc ta jogando fora uma coisa que poderia ser linda... pra sair com uma mulher casada?
duvido q ela vá te amar como te amo
oq ela tem q nao tenho?
Gabi diz (21:22):
e vc q todo dia no horario do happyhour em pleno fevereiro, fica me dizendo q ta indo pra faculdade?
acha q nao sei
q nao vejo as fotos dps
nao leio as piadinhas dos seus 'amigos'
to sabendo
Gabi diz (21:23):
q minha guampa anda a quilometro
. C. diz (21:23):
vc sabe que eu to com as pendencias na faculdade... nao queira me igualar a vc
Gabi diz (21:23):
o que eu sei
é q isso tá acabando com a gente
. C. diz (21:23):
e não tem piadinha nenhuma, vc q é imatura e tem mania de perseguição
Gabi diz (21:23):
parece q vc nao sente vontade de melhorar as coisas entre nós
sempre teimosa
nunca quer ceder
. C. diz (21:24):
mas melhorar oq? a gente nem se ve mais... eu fiquei lá naquele cinema sozinha, pq vc nao tem coragem de ceder nunca.
Gabi diz (21:24):
nem sms vc me manda mais
lembra no começo?
eram varios por dia
eu me lembro
ate sei q fui eu qm mandou o ultimo
vc matou o romance entre nos
dps qr me culpar se nao vou no cinema
. C. diz (21:24):
eu nao mando pq nos falamos mais agora por msn, por telefone, e tb, quando mandei um dia um 'eu to morrendo de saudade' vc nao respondeu
. C. diz (21:25):
eu fico sem saber
Gabi diz (21:25):
nunca recebi esse sms
. C. diz (21:25):
ah
sempre essa desculpa
Gabi diz (21:25):
como fica sem saber?
nao é desculpa
é culpa
da Claro
. C. diz (21:25):
é a desculpa do seu desamor
Gabi diz (21:25):
nao minha
te falei, vamos fazer um plano da OI
. C. diz (21:25):
vc nao tem nem coragem de dizer que nao me quer mais
Gabi diz (21:25):
vc nao quis
Gabi diz (21:26):
disse q eu ligar pro meu msn inteiro
. C. diz (21:26):
pra que Oi?
Gabi diz (21:26):
pq era mais barato
. C. diz (21:26):
se vc vive me bloqueando?
quem ama NÃO bloqueia.
Gabi diz (21:26):
a questao eh q vc vive com ciumes
inventando historia
querendo me privatizar
. C. diz (21:26):
eu?
Gabi diz (21:26):
quem mais?
se so tem vc
. C. diz (21:27):
olha só quem ta falando... vc que é mais livre que cacatua no carnaval
eu sempre te deixei fazer tudo q quis
e olha oq tive como retorno
fui largada
traída
Gabi diz (21:27):
vai se fazer de vitima agora né
. C. diz (21:27):
pq vc pensa que nao sei
. C. diz (21:28):
eu só tenho cara de besta
Gabi diz (21:28):
tá Cinthia
. C. diz (21:28):
mas nao sou
Gabi diz (21:28):
deixa assim
amanha a gente fala
alias
. C. diz (21:28):
olha lá
Gabi diz (21:28):
A GENTE SE FALA
. C. diz (21:28):
é assim q vc resolve tudo
Gabi diz (21:28):
nao dá pra manter essa discussao
. C. diz (21:28):
A GENTE SE FALA?
Gabi diz (21:28):
ela nunca vai acabar
ou mto bem vc me ama e me aceita
ou mto bem nao ama
é
a gente se fala
. C. diz (21:28):
oq vc acha disso:
A GENTE NAO SE FALA!?
Gabi diz (21:29):
gata
pára com isso
vc sabe q amanha vai ta morrendo de saudade
pra q inventar essa discussao?
tá faltando contato, por isso essa agressividade toda?
. C. diz (21:29):
pretensão... eu vivo sem você todo esse tempo, vc podia dar mais atenção pros meus sentimentos.
Gabi diz (21:29):
que isso
so pq disse q te amo
. C. diz (21:29):

Gabi diz (21:29):
ah pode é?
Gabi diz (21:30):
pode viver?
é?
mesmo?
entao ta
. C. diz (21:30):
ah
Gabi diz (21:30):
entao a gente NEM se fala
. C. diz (21:30):
tá vendo
era tudo q vc queria
Gabi diz (21:30):
nao
era o q vc queria
me manipular
. C. diz (21:30):
conseguiu agora a desculpa perfeita pra ir embora e dizer que a culpa é MINHA
Gabi diz (21:30):
para eu chegar no meu limite
esfregar na minha tela q vive mto bem sem mim
tenho q ir
. C. diz (21:31):
tem compromisso?
vai na tabacaria, né?
olha lá, me deixa sempre falando sozinha...
espero q vc pense
q eu te amo. e sempre quis nosso bem...
adeus.

P.S.: Não existe coisa mais absurdamente irônica e irritante que um 'a gente se fala', você bebe, se diverte, dança, fala da família, conversa, vai pra casa, assiste filme, faz sexo: uma, duas, três vezes, e o cara te devolve um 'a gente se fala'? A GENTE SE FALA? Como assim? Você joga as possibilidades todas ao acaso. E seja o que a central de guarda-chuva perdidos decidir? Sem essa, ou eu te ligo, ou vc me liga, ou a gente troca mensagem, msn, carta, pensamentos, mas não fica tentando me guardar na geladeira se não pretende me comer (o que eu, realmente, duvido muito) porque você não vai conseguir.

P.S.2.: Mulheres sempre farão uma discussão terminar como a culpa sendo SUA. Não adianta tentar, você NUNCA vai mudar isso.

E no começo parecia que ia dar certo, né? Era um 'eu te amo' tão inocente. Afinal, será um ad infinitum esse eu te amo no começo, esse adeus no final?
A resposta é simples: Não necessita manual de instruções: Guarda-chuva no pé não funciona, a chuva vai te molhar...


______
Mais um episódio da Série: Surtados também amam.
Protagonizado e agonizado por Gabriela Amarello e Cinthia Manhani.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Presa em mim.

Marcas de mãos suadas, batida seca em vidro blindado. Uma, duas, três vezes.
Do lado direito corpos sorrisos pilastra camisa branca cerveja, estendo a mão pra tocar, bate dura contra o vidro. Do lado esquerdo corpos braços ritmo sorrisos - dessa vez familiares - barbas desejos, estendo a mão pra tocar, batida seca, vidro que não estilhaça.

Som bate pelo lado de fora do quarto de vidro que abafa antes que chegue aos meus ouvidos.
Será que lá de fora ousam perceber a minha ausência extrema desse lugar? É isso que me faz perceber o toque mas não sentir. Esse vidro me separando da realidade. E tudo que sinto, sai de mim, explode nos quatro cantos dessa forma geométrica de angulos retos e volta ressonante, nos ouvidos meu próprio coração, taquicardiaco bate a galopes, trôpego, feito cavalo sem rédeas. Selvagem. Nem o seu ritmo descompassado batendo nas paredes de vidro é capaz de rompê-la. E as coisas todas aqui dentro por não terem pra onde fugir, sem espaço de vazão, vão se acumulando nos cantos de mim. É o limite do espaço, do reflexo que não se concretizou, da imagem que não vejo, mas que está lá, da resposta que não tenho mas que desaguo de mim para lavar esse vidro marcado pelas minhas mãos suadas de tentativas desajeitadas. Te busco em vão, nos vidros meu reflexo se desfez como se desfaz nas poças d'agua em dia de chuva intensa. Não tem forma, só tem beleza. A beleza que dói por não ter olhos que a mirem. De fora o reflexo do vidro só te mostra você mesmo... ninguém pode me ver como sou, nenhuma mão pode ultrapassar essa casulo porque no erro ele se torna cortante. Na falta ele se torna pleno. Nada preenche a amplitude. Meus pensamentos como ecosonar. Meu orgão receptivo é o coração, despedaçado entre os passos errôneos desse animal selvagem que o conduz. Nos meus bolsos todas as armas que minhas mãos desfalecidas não conseguem alcançar.
O vazio da falta de respostas que nenhuma pergunta há mais de se fazer. E se há de ter forças para romper essa caixa que me contém, para que eu seja, para que possa estar.

Para que me toque e não mais somente perceba...
Para que me toque, vida, e eu possa dessa vez sentir.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Ro-encontro

Imóvel.

Era como se o chão que antes suportava os meus pés tivesse se desfeito. A minha cabeça, em segundos, registrou a cena, percebeu os movimentos, sentiu o céu e titubeante tentou decidir o próximo passo. Era como se todo o esforço diário pra esquecer sua presença em mim se transformasse em listras preto branco preto branco preto branco preto, sua presença não mais em mim, estava à minha volta. Tonta. Minha cabeça gira, meus olhos percorrem todos os lados, eu não tenho pra onde escapar. Voltar pra trás nunca foi uma opção. Pensa pensa pensa. Seus pés desviam, seu corpo brinca com o vaivém da minha indecisão. Você sempre teve esse dom de fugir mais rápido que eu. Costas, pernas, preto branco preto branco preto branco. Fones no pescoço, a vida antes distante adentra agora por seus ouvidos. O corpo em gesto inconsciente vira, volta. Reviravolta em mim. Nos seus ombros, no meus joelhos. Os meus passos se tornam pesados, meu pulmão parece desconhecer todo esse ar necessário pra me manter.

Imóvel, quando a minha vontade era correr pra lugar nenhum, pra todos os lugares, pros teus braços, pro meu conforto. Pra longe deles, pra longe desse lugar inóspito, longe dessa cidade. Pra fora dessa rua que tem o céu mais cinza que o anúncio da catastrofe que arrebentava em meu peito. Imóvel. Enquanto penso o que eu faço. Seus olhos nos meus, seu braço estendido, em meus ouvidos a frase estala feito tiro seco. ‘Pensei que você não ia parar’, eu não lembro de ter respondido, eu não lembro de poder falar nada, eu falei algo? Existia algo que pudesse responder essa exclamação? Braços em abraços, o preto branco cada vez mais perto, o cheiro, a curva, os meus olhos querendo escapar pra onde pudessem desaguar. O que eu deveria dizer ‘E não pára, não pára mesmo, me diz como, como faço pra parar essa dor sem remédio que ocupou seu lugar dentro de mim?’ ou ‘E isso faria alguma diferença pra você? Faz diferença eu estar aqui parada?’, mas eu não disse nada. Tudo bem? Tudo. To ligada no automático da vida. As respostas tão evasivas quanto ela. De onde vocês tão vindo? Pra onde vão? Os dedos, meus dedos entregando que não sabia o que fazer. A conversa sem rumo, a sua boca, mais branca que o de costume, e seus olhos que negavam meu olhar. Um desejo de bom filme, outro de bom trabalho. Meus pés se moveram como se não suportassem mais continuar sustentando o peso do meu corpo, o meu coração explodindo as lágrimas que não me permiti chorar. O meu desejo escapando das minhas mãos. Deveria ser proibido tanto amor assim em um só corpo. Um autoreconhecimento de não és amada em troca, e tudo subiria pelos ares feito o vapor quente do chá que tomo todas as noites pra tentar dormir desde que você foi embora. E quando penso já não consigo me lembrar. Preto branco preto branco preto branco. Foi embora. Porque mesmo se foi?