Ontem eu cheguei em casa e chorei, chorei muito até esgotar. Então veio uma dor profunda, muito profunda, dor no peito, que irradiava pras costas, começou a faltar o ar e fiquei tonta.
Eu morri.
Então fui para o hospital, não consegui lidar. Cheguei no hospital era 3:33, a médica perguntou: o que houve?
E eu respondi - uma profunda dor no peito que irradia pras costas ou das costas que irradia pro peito, não consigo respirar.
Ela me examinou e confusa me disse que devia ser uma crise da coluna, me prescreveu medicamento, me colocaram os acessos, eu deitei pra tomar a medicação, não tinha ninguém no hospital, só eu. E eu me dei conta. Parei e fiquei presente, tentando ouvir o que meu corpo estava tentando me dizer.
Eu tive crises e me mediquei para dores durante muito tempo, meu corpo sente demais as profundas dores que carrego na alma.
Eu renasci.
Olhei no relógio: 05:15 da manhã, o telefone toca, é 19/03/2016. Eu atendo o telefone com medo e ouço: Ci, aconteceu. Meu corpo inteiro reage, eu perco o ar, meu peito parece que vai explodir, minhas costas quebraram no meio pq eu havia sido reduzida, eu senti isso.
Volto mais: é 18/03/2016, 21h00, eu tô no hospital, abraço a Ju e ela me diz que não aguenta mais, eu respondo: esse sofrimento está acabando, você sabe, né?
Olhei pra cima, a medicação acabou, é 19/03/2020 e eu estou viva. A dor foi se acalmando e meu corpo foi retornando pro lugar. Minha coluna uniu todos seus pedaços e agora eu sou do tamanho que me cabe. E só só por esse momento eu entendo a impermanência, entendo a necessidade de abolir esse tempo como conhecemos.
E então estou inteira, nada mais me falta.
Agradeço o enfermeiro pelos cuidados, ele retira o acesso, eu levanto e vou embora.
Foi como foi.
Eu entrei lá como Cinthia Manhani, e sai como Harshila Kali.