sexta-feira, 8 de abril de 2011

Quem sai da pista não pode dançar.

Nunca achei meu aniversário uma data em que algo deveria ser dito. Não até esse ano.

É que existem muitas marcas em todas as calçadas por onde pisei, em todos os chãos que sentei, em todas as mãos que segurei. Existem marcas em mim de todas as coisas que perdi e de todas pessoas que amei. Existem marcas em todos eles que sentaram por onde meus pés passaram arrastando a poeira do caminho das minhas decepções. Estou, assim, nas pessoas que não conheço, nas roupas largadas fora do box na hora do banho. Estou em camas de hotéis baratos na Augusta, no sorriso da criança na janela do ônibus, nos olhos que não me viram. Estou ecoando pela cidade vazia da minha presença, estou aqui sempre partindo. Sempre indo, ficando metade, sempre querendo, desejando saudade. Estou na filha que sorri, abraça, dança e encanta meu coração, estou nos pais que compreendem, nos braços familiares que acolhem, nas lembranças dos amigos, estou na cerveja depois do trabalho, nos minutos desperdiçados em cada cigarro aceso. Estou na distância, no aconchego, na partida. Estou nos rostos dos alunos que me ouvem, na esperança de todos eles. Estou nos livros que vendo, nos que compro, nas linhas desse texto. Estou em toda parte e em lugar nenhum. No asfalto quente por onde passa a roda do carro que parte, está sempre partindo. Estou no mar que sufoca com nosso descaso. Estou na indignação de não saber o que fazer. Estou na desesperança. Estou em todas as bocas que beijei, em seus sangues minhas particulas, estou pra sempre despedaçada. Estou nas dores, sou toda felicidades.
Estou nos filmes, nas obras, no ator que ensaia a peça, na música que nunca ouvi, no amor que nunca tive. Estou em toda parte e em lugar nenhum.

E só estou por eles, por ela, pelo apoio, pelo ombro doado, pelos ouvidos de madrugada, pelo encorajamento. Esse ano tenho que agradecer a eles, por todo o carinho, por todo o amor, por toda doação, pela companhia muda, pelo choro amparado. Pelo abraço, pelo braço, pelo pulso, pelo bom humor. Mas acima de tudo, devo agradecer a mim, por estar aqui, por ainda estar em tudo, por continuar desacreditada, mas continuar. Por ter suportado, por ter sobrevivido a mim mesma, à todas as promessas quebradas, a todos desencontros. Quero agradecer a mim por todas as manhãs em que a vida era insuportável, e mesmo assim eu acordava. Por todo o choro, todos os rompantes, as crises, os vidros, as portas, os objetos quebrados, por todo meu medo, todo o descontrole, por toda a dor sufocante, o grito travado na garganta, as lágrimas. Quero agradecer a mim, por sobreviver à morte de todos os meus ideais. Por ter me dado outra chance, por tantas vezes ter tentado morrer. E se eu tivesse conseguido? E se? E se? E se...
Agradeço a mim por ainda estar aqui pra ver o sorriso da menina de olhos doces me dizendo em silêncio: te amo, te amo, te amo; do tamanho do mundo.


Quero agradecer a mim, por continuar, mesmo depois de achar que não podia mais.