quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Sua hora ainda não chegou.

A vida recorre aos ajustados. Ela corre em direções opostas sempre em busca de braços abertos. A flor no seu cabelo não esconde o rio pronto pra desaguar de seus olhos. A natureza se desenha em seu rosto de uma maneira quase infantil. Desbrava cada curva marcada pela dor, se acentua em meio às imperfeições quase aceitaveis.

Seu jeito sincero de menina-mulher já quase convenceu a vida de que você era feliz. Você dançou em meio aos passaros que, avançando em direção ao por-do-sol, mostraram-se estupefados. Suas penas tremiam, não pelo embate do vento em seus corpos leves, mas pelo espanto que causou o fascinio de querer estar perto de suas raizes tão humanas. A vontade de sugar sua seiva, de beber suas lagrimas, de caminhar por suas dores. E o medo de cair nesse abismo que afoga, que sufoca, a sua natureza é assim, cheia de garras que se desenham em plantas, que abraçam seus medos, e fazem crescer flores em suas duvidas.

A sua inaptidão para as coisas banais se mostra acentuada quando suas mãos frágeis deixam escapar sua unica chance de segurar o passaro entre as mãos e mostrar a ele, que voar pode ser indescritivel, que a liberdade é o objeto de desejo de todos os seres viventes, mas que suas raizes podem fazer florescer a mais bela canção que olhos vivos podem apreciar. E que ficar pode ser a chance de se encontrar em meio à verdade que a vida esconde.

A decisão voa em asas frágeis, esperando a hora de acontecer.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

De mim pra mim

Como esperar algo dentro do esperado vindo dela?

É o que todos pensarão quando anunciar sua nova loucura.

E há tempos ela se indaga se amor é mesmo essa coisa que acaba repentinamente, como a escuridão se vai quando a luz é acesa. Pensa que o cara que inventou a iluminação artificial comprou uma briga feia com a sequência fatídica das coisas, também conhecida como destino, deus, capeta, todas essas coisas para quais as pessoas dão nomes por não suportarem se entregar ao desconhecido. Virava a cabeça de lado e ria ironicamente quando pensava nisso, seus olhos brilhavam por estar acima dessas convenções tão humanas. Ah, convenções humanas, tinha arrepios de lembrar dos encontros familiares que cessaram com a morte de seus avós. Ela os amava, é verdade, e daria seus rins para curá-los se não tivesse que passar todo natal e virada de ano naquele circo armado que as pessoas teimavam em chamar de confraternização. Uma lavação de roupa suja escancarada, típica família. Nas mãos agora a oportunidade de mudar os rumos, de construir uma família com bases solidificadas somente na verdade, por mais que ela pudesse, as vezes, doer ou causar intenso prazer. Se a verdade doer ainda poderia fazer careta, viva à manifestação da coisa viva, nem ia ficar assim pra sempre se passasse um anjinho e assoprasse.

Durante todo o tempo que fugiu da sua predestinação marcada por um encontro de terceira, ela ecoava pela cidade cinza de tão vazia que vivia.

Ela não pensava muito no que poderia ter acontecido durante o tempo que passara. Passou, né? E se passou está irremediavelmente enterrado no ontem.

O dia novo que cessa a escuridão natural atravessa a sua janela trazendo ao seu dia milhões de interrogações que não precisam de respostas. Ela está finalmente livre. Para se estar livre é preciso que um dia tenha estado preso, por isso as pessoas não sabem definir a liberdade, porque ela é essa coisa que amarra nenhuma pode conter. Há que se desfazer dos conceitos e antes ainda dos pré-conceitos. E de todas as formas de ser, de aprender a ser, de todos os moldes da sociedade, de todos as enumerações didáticas e valiosas sobre a vida. Há que se abster de toda compreensão, não há nada a ser compreendido. Somos a continuidade de algo que não necessita explicações por não ter nome. E por não ter nome nao é aceito. Algo que não tem nome não pode ser estudado, destrinchado, escarafunchado, transformado em um padrão cognitivo aceitável. Abre os olhos para a vida que queima lá fora, pensa nisso com destreza, coloca primeiro o pé esquerdo no chão, porque hoje nenhuma crença a contém, nada mais é capaz de ditar os rumos de sua felicidade.

E vai...

terça-feira, 5 de julho de 2011

Se despediram...

Ela ainda pode ver o contorno de suas costas enquanto ele trabalha. Ele faz arte. Faz ela se sentir peça única numa exposição urbana. Ela faz silêncio, se especializou nisso desde que o conheceu. Ele tem medo, ela tem sonhos.

Os dois aprenderam a caminhar sobre os mesmos passos. Ela caminhava olhando pra frente, ele sempre entortava o pescoço, vendo se não deixara nada pra trás. Eles não precisavam um do outro, mas ela se pegava pensando nele enquanto escovava os dentes antes de dormir, ele pensava nela até quando pensava em outras. Costumava dizer que ela se desenhava por trás de todos os seus desejos, ela ria e com a leveza de quem não precisa saber onde ir, iam. Iam porque não tinha mais como voltar. Estavam irremediavelmente entregues. O tempo passava por eles, na imagem de pés sincronicos refletidos no espelho. Agora ela fazia do tempo um aliado na busca do esquecimento. Ele aproveitava o esforço dela pra partir.

Ela fez a única coisa que pode ser feita quando necessitamos esquecer alguém, nos magoamos, machucamos, construimos buscas infindáveis, damos ao outro mais responsabilidade do que ele pode carregar. Ele fez a única coisa que pode ser feita quando não aguenta mais o peso de algo que não pode carregar, deixou encostado no chão, perto da janela, e partiu.

Ela aprendeu a fingir odiá-lo, ele aprendeu a viver sem as respostas dela. E hoje ela ainda se pergunta se a falta de resposta não seria essa coisa que tenta absurdamente transformar o silêncio em uma forma de gritar pra que todos possam ouvir que precisa dele. Perto da janela entra muito ar, mas mesmo assim não consegue respirar. E hoje ele ainda se pergunta se esse vazio deixado pela espera dela não é isso que chamam de infelicidade. Pelo caminho todas as flores, mas nenhuma mais enfeita o cabelo dela.

Ele precisa dela, ela não precisa dele, mas o quer. Ele pensa nela quando passa pela moça de vestido preto sentada na calçada. Ela pensa nele quando lê Rimbaud e pára pra respirar olhando por cima do ombro tentando encontrá-lo. Eles não tem medo de amar. Nunca tiveram.

E eles se amam tanto, tanto, que resolveram se deixar em paz.

Então se despediram numa tarde de novembro, ela de preto, ele de jeans.

Ficaram em paz, mas jamais se perderam; todos os caminhos do amor levam ao mesmo lugar.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Quem sai da pista não pode dançar.

Nunca achei meu aniversário uma data em que algo deveria ser dito. Não até esse ano.

É que existem muitas marcas em todas as calçadas por onde pisei, em todos os chãos que sentei, em todas as mãos que segurei. Existem marcas em mim de todas as coisas que perdi e de todas pessoas que amei. Existem marcas em todos eles que sentaram por onde meus pés passaram arrastando a poeira do caminho das minhas decepções. Estou, assim, nas pessoas que não conheço, nas roupas largadas fora do box na hora do banho. Estou em camas de hotéis baratos na Augusta, no sorriso da criança na janela do ônibus, nos olhos que não me viram. Estou ecoando pela cidade vazia da minha presença, estou aqui sempre partindo. Sempre indo, ficando metade, sempre querendo, desejando saudade. Estou na filha que sorri, abraça, dança e encanta meu coração, estou nos pais que compreendem, nos braços familiares que acolhem, nas lembranças dos amigos, estou na cerveja depois do trabalho, nos minutos desperdiçados em cada cigarro aceso. Estou na distância, no aconchego, na partida. Estou nos rostos dos alunos que me ouvem, na esperança de todos eles. Estou nos livros que vendo, nos que compro, nas linhas desse texto. Estou em toda parte e em lugar nenhum. No asfalto quente por onde passa a roda do carro que parte, está sempre partindo. Estou no mar que sufoca com nosso descaso. Estou na indignação de não saber o que fazer. Estou na desesperança. Estou em todas as bocas que beijei, em seus sangues minhas particulas, estou pra sempre despedaçada. Estou nas dores, sou toda felicidades.
Estou nos filmes, nas obras, no ator que ensaia a peça, na música que nunca ouvi, no amor que nunca tive. Estou em toda parte e em lugar nenhum.

E só estou por eles, por ela, pelo apoio, pelo ombro doado, pelos ouvidos de madrugada, pelo encorajamento. Esse ano tenho que agradecer a eles, por todo o carinho, por todo o amor, por toda doação, pela companhia muda, pelo choro amparado. Pelo abraço, pelo braço, pelo pulso, pelo bom humor. Mas acima de tudo, devo agradecer a mim, por estar aqui, por ainda estar em tudo, por continuar desacreditada, mas continuar. Por ter suportado, por ter sobrevivido a mim mesma, à todas as promessas quebradas, a todos desencontros. Quero agradecer a mim por todas as manhãs em que a vida era insuportável, e mesmo assim eu acordava. Por todo o choro, todos os rompantes, as crises, os vidros, as portas, os objetos quebrados, por todo meu medo, todo o descontrole, por toda a dor sufocante, o grito travado na garganta, as lágrimas. Quero agradecer a mim, por sobreviver à morte de todos os meus ideais. Por ter me dado outra chance, por tantas vezes ter tentado morrer. E se eu tivesse conseguido? E se? E se? E se...
Agradeço a mim por ainda estar aqui pra ver o sorriso da menina de olhos doces me dizendo em silêncio: te amo, te amo, te amo; do tamanho do mundo.


Quero agradecer a mim, por continuar, mesmo depois de achar que não podia mais.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Azar no jogo.

Nunca foi verdade, foi?

Nem a chuva que nos molhava o corpo era verdadeira.
Nem os nossos pés em sincronia, os caminhos que levavam aos mesmos lugares.
Os encontros, casuais ou não.
Os teus olhos no espelho, eu no teu colo, a tua cadeira girando.
Era uma brincadeira. Um jogo que eu sugeri e você aceitou jogar.
Quando cansou, você trocou a fita.
Agora sou um nintendo no armário de alguém que não coleciona videogames.
Sou um atari que se vende pra aproveitar as peças.
Estou em desuso.
Mas na sua casa, pelo teu quarto, pela sala, pela cozinha, nos caminhos que te levam ao banho, na tua cama, com os pés na tua prateleira, no filme que nunca assistimos, eu ainda estou.
Mesmo que o amor não seja um jogo feito pra ganhar.
Que só reste na minha memória gasta de videogame antigo.


Mesmo que este jogo a gente não jogue mais.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Só queria dizer que te amo.

É verdade que as pessoas nunca se satisfazem com nada. Acho até satisfatório, pois a insatisfação move as pessoas. E até que ponto temos que nos conformar com o que a vida nos dá? E se a gente quiser mais, qual o problema em querer sempre mais? Nenhum. Desde que você não esteja pedindo mais do que alguém dispõe pra te dar.
Afinal, reclamamos tanto do sol, mas quando chove abrimos todos o guarda-chuva, reclamamos tanto do frio, mas quando faz sol, queremos todos sombra e abrigo, de preferência com ar condicionado. O que a gente quer, afinal?
Se quiser mais de alguém, que esse alguém seja você mesmo. Se algo que te dou não é suficiente, você ainda pode partir pra procurar um lugar onde obtenha mais. Não pode?

Indagações como esta significam que tá na hora de mandar esse guarda-chuva pro conserto, porque se chover, quem vai se molhar é você.

Dizem que um eu te amo muda vidas, eu acredito, veja por exemplo como mudou essas:

Gabi diz (21:16):

é excesso de compreensao
sempre foi
até pq
EU TE AMO GATA
. C. diz (21:17):
É disso que to falando Brasil
Vcs tão vendo?
Gabi diz (21:17):
eu te amo
pq vc reclama disso?
de ser amada e compreendida
porra
nao da pra te entender tb
. C. diz (21:17):
Mas... é que acho que vc não me ama mais como antigamente.
é pq eu te amo tb. então não sei talvez deva fechar esse guarda-chuva dos corações.
Gabi diz (21:18):
Foi vc q mudou
pq eu nao pude ir no Belas cntg
acha q nao sei?
desde semana passada isso
. C. diz (21:18):
mas sabe... era importante pra mim
vc nunca me acompanha.
Gabi diz (21:19):
Mas eu nao pudePORRA
NAO pude
. C. diz (21:19):
pq?
Gabi diz (21:19):

pq...
. C. diz (21:19):
oq era mais importante q eu?
Gabi diz (21:19):
pq nao pude
. C. diz (21:19):
tá vendo como vc nao me ama?
Gabi diz (21:19):
eu te amo
mas nem tudo é simples assim
esses filmes q vc quer ver as vzs
q vc quer q eu entenda
porra
. C. diz (21:19):
HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA
Gabi diz (21:20):
eu nao saco nada de cine europeu
nao da
Gabi diz (21:20):
tá vendo?
. C. diz (21:20):
se vc me amasse mesmo
Gabi diz (21:20):
tá histerica
rindo da minha ignorancia
viu?
por isso nao falei antes
. C. diz (21:20):
vc iria comigo... ver os cisnes
talvez eu nao tivesse ficado me sentindo o patinho feio lá
Gabi diz (21:20):
mulheres... nunca satisfeitas em serem amadas
. C. diz (21:21):
olha... eu acho que vc ta com outra.
é a menina da tabacaria, né?
Gabi diz (21:21):
EU?
. C. diz (21:21):
por isso vc vive indo lá
Gabi diz (21:21):
ela é casada
. C. diz (21:21):
não tá percebendo?
Gabi diz (21:21):
como vc é imaturta
. C. diz (21:22):
q vc ta jogando fora uma coisa que poderia ser linda... pra sair com uma mulher casada?
duvido q ela vá te amar como te amo
oq ela tem q nao tenho?
Gabi diz (21:22):
e vc q todo dia no horario do happyhour em pleno fevereiro, fica me dizendo q ta indo pra faculdade?
acha q nao sei
q nao vejo as fotos dps
nao leio as piadinhas dos seus 'amigos'
to sabendo
Gabi diz (21:23):
q minha guampa anda a quilometro
. C. diz (21:23):
vc sabe que eu to com as pendencias na faculdade... nao queira me igualar a vc
Gabi diz (21:23):
o que eu sei
é q isso tá acabando com a gente
. C. diz (21:23):
e não tem piadinha nenhuma, vc q é imatura e tem mania de perseguição
Gabi diz (21:23):
parece q vc nao sente vontade de melhorar as coisas entre nós
sempre teimosa
nunca quer ceder
. C. diz (21:24):
mas melhorar oq? a gente nem se ve mais... eu fiquei lá naquele cinema sozinha, pq vc nao tem coragem de ceder nunca.
Gabi diz (21:24):
nem sms vc me manda mais
lembra no começo?
eram varios por dia
eu me lembro
ate sei q fui eu qm mandou o ultimo
vc matou o romance entre nos
dps qr me culpar se nao vou no cinema
. C. diz (21:24):
eu nao mando pq nos falamos mais agora por msn, por telefone, e tb, quando mandei um dia um 'eu to morrendo de saudade' vc nao respondeu
. C. diz (21:25):
eu fico sem saber
Gabi diz (21:25):
nunca recebi esse sms
. C. diz (21:25):
ah
sempre essa desculpa
Gabi diz (21:25):
como fica sem saber?
nao é desculpa
é culpa
da Claro
. C. diz (21:25):
é a desculpa do seu desamor
Gabi diz (21:25):
nao minha
te falei, vamos fazer um plano da OI
. C. diz (21:25):
vc nao tem nem coragem de dizer que nao me quer mais
Gabi diz (21:25):
vc nao quis
Gabi diz (21:26):
disse q eu ligar pro meu msn inteiro
. C. diz (21:26):
pra que Oi?
Gabi diz (21:26):
pq era mais barato
. C. diz (21:26):
se vc vive me bloqueando?
quem ama NÃO bloqueia.
Gabi diz (21:26):
a questao eh q vc vive com ciumes
inventando historia
querendo me privatizar
. C. diz (21:26):
eu?
Gabi diz (21:26):
quem mais?
se so tem vc
. C. diz (21:27):
olha só quem ta falando... vc que é mais livre que cacatua no carnaval
eu sempre te deixei fazer tudo q quis
e olha oq tive como retorno
fui largada
traída
Gabi diz (21:27):
vai se fazer de vitima agora né
. C. diz (21:27):
pq vc pensa que nao sei
. C. diz (21:28):
eu só tenho cara de besta
Gabi diz (21:28):
tá Cinthia
. C. diz (21:28):
mas nao sou
Gabi diz (21:28):
deixa assim
amanha a gente fala
alias
. C. diz (21:28):
olha lá
Gabi diz (21:28):
A GENTE SE FALA
. C. diz (21:28):
é assim q vc resolve tudo
Gabi diz (21:28):
nao dá pra manter essa discussao
. C. diz (21:28):
A GENTE SE FALA?
Gabi diz (21:28):
ela nunca vai acabar
ou mto bem vc me ama e me aceita
ou mto bem nao ama
é
a gente se fala
. C. diz (21:28):
oq vc acha disso:
A GENTE NAO SE FALA!?
Gabi diz (21:29):
gata
pára com isso
vc sabe q amanha vai ta morrendo de saudade
pra q inventar essa discussao?
tá faltando contato, por isso essa agressividade toda?
. C. diz (21:29):
pretensão... eu vivo sem você todo esse tempo, vc podia dar mais atenção pros meus sentimentos.
Gabi diz (21:29):
que isso
so pq disse q te amo
. C. diz (21:29):

Gabi diz (21:29):
ah pode é?
Gabi diz (21:30):
pode viver?
é?
mesmo?
entao ta
. C. diz (21:30):
ah
Gabi diz (21:30):
entao a gente NEM se fala
. C. diz (21:30):
tá vendo
era tudo q vc queria
Gabi diz (21:30):
nao
era o q vc queria
me manipular
. C. diz (21:30):
conseguiu agora a desculpa perfeita pra ir embora e dizer que a culpa é MINHA
Gabi diz (21:30):
para eu chegar no meu limite
esfregar na minha tela q vive mto bem sem mim
tenho q ir
. C. diz (21:31):
tem compromisso?
vai na tabacaria, né?
olha lá, me deixa sempre falando sozinha...
espero q vc pense
q eu te amo. e sempre quis nosso bem...
adeus.

P.S.: Não existe coisa mais absurdamente irônica e irritante que um 'a gente se fala', você bebe, se diverte, dança, fala da família, conversa, vai pra casa, assiste filme, faz sexo: uma, duas, três vezes, e o cara te devolve um 'a gente se fala'? A GENTE SE FALA? Como assim? Você joga as possibilidades todas ao acaso. E seja o que a central de guarda-chuva perdidos decidir? Sem essa, ou eu te ligo, ou vc me liga, ou a gente troca mensagem, msn, carta, pensamentos, mas não fica tentando me guardar na geladeira se não pretende me comer (o que eu, realmente, duvido muito) porque você não vai conseguir.

P.S.2.: Mulheres sempre farão uma discussão terminar como a culpa sendo SUA. Não adianta tentar, você NUNCA vai mudar isso.

E no começo parecia que ia dar certo, né? Era um 'eu te amo' tão inocente. Afinal, será um ad infinitum esse eu te amo no começo, esse adeus no final?
A resposta é simples: Não necessita manual de instruções: Guarda-chuva no pé não funciona, a chuva vai te molhar...


______
Mais um episódio da Série: Surtados também amam.
Protagonizado e agonizado por Gabriela Amarello e Cinthia Manhani.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Presa em mim.

Marcas de mãos suadas, batida seca em vidro blindado. Uma, duas, três vezes.
Do lado direito corpos sorrisos pilastra camisa branca cerveja, estendo a mão pra tocar, bate dura contra o vidro. Do lado esquerdo corpos braços ritmo sorrisos - dessa vez familiares - barbas desejos, estendo a mão pra tocar, batida seca, vidro que não estilhaça.

Som bate pelo lado de fora do quarto de vidro que abafa antes que chegue aos meus ouvidos.
Será que lá de fora ousam perceber a minha ausência extrema desse lugar? É isso que me faz perceber o toque mas não sentir. Esse vidro me separando da realidade. E tudo que sinto, sai de mim, explode nos quatro cantos dessa forma geométrica de angulos retos e volta ressonante, nos ouvidos meu próprio coração, taquicardiaco bate a galopes, trôpego, feito cavalo sem rédeas. Selvagem. Nem o seu ritmo descompassado batendo nas paredes de vidro é capaz de rompê-la. E as coisas todas aqui dentro por não terem pra onde fugir, sem espaço de vazão, vão se acumulando nos cantos de mim. É o limite do espaço, do reflexo que não se concretizou, da imagem que não vejo, mas que está lá, da resposta que não tenho mas que desaguo de mim para lavar esse vidro marcado pelas minhas mãos suadas de tentativas desajeitadas. Te busco em vão, nos vidros meu reflexo se desfez como se desfaz nas poças d'agua em dia de chuva intensa. Não tem forma, só tem beleza. A beleza que dói por não ter olhos que a mirem. De fora o reflexo do vidro só te mostra você mesmo... ninguém pode me ver como sou, nenhuma mão pode ultrapassar essa casulo porque no erro ele se torna cortante. Na falta ele se torna pleno. Nada preenche a amplitude. Meus pensamentos como ecosonar. Meu orgão receptivo é o coração, despedaçado entre os passos errôneos desse animal selvagem que o conduz. Nos meus bolsos todas as armas que minhas mãos desfalecidas não conseguem alcançar.
O vazio da falta de respostas que nenhuma pergunta há mais de se fazer. E se há de ter forças para romper essa caixa que me contém, para que eu seja, para que possa estar.

Para que me toque e não mais somente perceba...
Para que me toque, vida, e eu possa dessa vez sentir.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Ro-encontro

Imóvel.

Era como se o chão que antes suportava os meus pés tivesse se desfeito. A minha cabeça, em segundos, registrou a cena, percebeu os movimentos, sentiu o céu e titubeante tentou decidir o próximo passo. Era como se todo o esforço diário pra esquecer sua presença em mim se transformasse em listras preto branco preto branco preto branco preto, sua presença não mais em mim, estava à minha volta. Tonta. Minha cabeça gira, meus olhos percorrem todos os lados, eu não tenho pra onde escapar. Voltar pra trás nunca foi uma opção. Pensa pensa pensa. Seus pés desviam, seu corpo brinca com o vaivém da minha indecisão. Você sempre teve esse dom de fugir mais rápido que eu. Costas, pernas, preto branco preto branco preto branco. Fones no pescoço, a vida antes distante adentra agora por seus ouvidos. O corpo em gesto inconsciente vira, volta. Reviravolta em mim. Nos seus ombros, no meus joelhos. Os meus passos se tornam pesados, meu pulmão parece desconhecer todo esse ar necessário pra me manter.

Imóvel, quando a minha vontade era correr pra lugar nenhum, pra todos os lugares, pros teus braços, pro meu conforto. Pra longe deles, pra longe desse lugar inóspito, longe dessa cidade. Pra fora dessa rua que tem o céu mais cinza que o anúncio da catastrofe que arrebentava em meu peito. Imóvel. Enquanto penso o que eu faço. Seus olhos nos meus, seu braço estendido, em meus ouvidos a frase estala feito tiro seco. ‘Pensei que você não ia parar’, eu não lembro de ter respondido, eu não lembro de poder falar nada, eu falei algo? Existia algo que pudesse responder essa exclamação? Braços em abraços, o preto branco cada vez mais perto, o cheiro, a curva, os meus olhos querendo escapar pra onde pudessem desaguar. O que eu deveria dizer ‘E não pára, não pára mesmo, me diz como, como faço pra parar essa dor sem remédio que ocupou seu lugar dentro de mim?’ ou ‘E isso faria alguma diferença pra você? Faz diferença eu estar aqui parada?’, mas eu não disse nada. Tudo bem? Tudo. To ligada no automático da vida. As respostas tão evasivas quanto ela. De onde vocês tão vindo? Pra onde vão? Os dedos, meus dedos entregando que não sabia o que fazer. A conversa sem rumo, a sua boca, mais branca que o de costume, e seus olhos que negavam meu olhar. Um desejo de bom filme, outro de bom trabalho. Meus pés se moveram como se não suportassem mais continuar sustentando o peso do meu corpo, o meu coração explodindo as lágrimas que não me permiti chorar. O meu desejo escapando das minhas mãos. Deveria ser proibido tanto amor assim em um só corpo. Um autoreconhecimento de não és amada em troca, e tudo subiria pelos ares feito o vapor quente do chá que tomo todas as noites pra tentar dormir desde que você foi embora. E quando penso já não consigo me lembrar. Preto branco preto branco preto branco. Foi embora. Porque mesmo se foi?

sábado, 29 de janeiro de 2011

Reino da solidão

Por entre o balaustre da sacada sou a luz do poste que ofusca sua visão.

De perto não me vês... sou forma em plena desilusão.

Das minhas mãos escorre o líquido que alivia da morte mais uma noite de verão.

Mais uma decepção, quando pensas que a insensibilidade alheia te arrasa por desertos

Livrando-te de ser apenas mais um na multidão

Essa mesma que habita a fumaça do cigarro em suas mãos molhadas

Cansadas...

A rainha da sua solidão.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Sou lago.




Primeiro jogou os livros, o caderno de três semestres atrás, a bolsa, os fones de ouvido, e por último se jogou. Seu vestido de listras azuis e brancas voaram junto ao impulso de seu corpo. De pé, do alto, ela podia ver o parque todo. Até o último skatista que deslizava naquela imensidão cinza da pista cortada pelo verde intrometido das poucas árvores enquadradas naquela tarde. Lembrara-se de ter pensado enquanto subia com aquele sol brilhando em seus contornos que esperava que ninguém tivesse ocupando o seu lugar; como se algum lugar no mundo fosse capaz de pertencê-la, como se ela mesma fosse capaz de pertencer a algum lugar. Estava vazio. Ela nunca soube definir o que sentia ao ver seu lugar desta maneira: um misto de felicidade por sentir-se unicamente corajosa por subir no mais alto ponto e de tristeza pelo exato mesmo motivo. Era janeiro e o parque estava muito mais cheio que de costume, o verão estava ardendo pela cidade, os parques eram os únicos refúgios dos paulistanos. Um pouco incomodada ainda, sentou-se. Dali podia observar o dia sendo. Os casais passeando, os cães se escondendo do sol, os apressados que usavam o parque como atalho, os aprendizes, os seguranças, os coqueiros, os bancos, os chafarizes, o lago abaixo de seus pés sempre tão calmo e raso, no fundo ainda era possível ver os skatistas, os cones, as escadas, os celulares, os rostos, a ligação esperada em cada sorriso escapista. E pensava desesperançada que as pessoas não se importavam em existir, olhando lá de cima não parecia doer em ninguém. Respirou fundo, observando as curvas de suas pernas sentada em forma de borboleta, ao reerguer sua cabeça pode observar que trouxera junto de si todo o cinza, o dia claro começara a se transformar no céu de chuva característico de São Paulo. O vento apressado fazia os chafarizes se contorcerem, as folhas balançavam quase que em renuncia. O lago antes calmo e raso, agora dançava em ritmo aleatoriamente definido por forças externas. Uma outra olhada pra cima, e depois que piscaram, seus olhos podiam ver todos indo embora. Era só o anúncio que uma grande catástrofe estaria por vir, e as pessoas não se demoravam a sumir. Feito filme enfiavam-se por entre as árvores, os bancos, seus pés fugidios nas escadas, os skatistas, os guardas, não sobrou ninguém, até os celulares foram guardados nas bolsas como a garantia da próxima ligação. O vento carregou meus livros e minha bolsa, ainda a tempo de segurar pude ver a ousadia do fotografo lutando pela última foto. Desistiu. Agora eu estava sozinha com o lago, que inutilmente dançava sua valsa mais bonita. Último ato. Só meus olhos como testemunha, eu nem me importava mais com o vento que levava meu vestido no mesmo ritmo do lago. Eu me deixava ir, sentia em mim toda a fúria e revolta da natureza. Como quem arma um show por amor à arte e não pelo lucro com a venda dos ingressos a natureza tinha sido abandonada à sua própria beleza. Não importava mais se alguém pagou pela vida, importava agora o que nunca poderia ser visto. Então é isso, a vida te custa caro e você foge no momento que ela se mostra como é? Eu pensei desesperançosa que minha vida era como o lago, era como essa força da natureza. Apreciada quando calma e lenta. Quase superficial. E quando se mostrava, quando não suportava mais não ser só como se deve ser, assustava. De antemão as pessoas fugiam sem saber se ainda o que viria poderia ser belo. Fugiam por não saber apreciar o que existe fora do lugar-comum. Por não saber lidar com o inesperado. Por não saber estender os braços, e totalmente alheios aos julgamentos fechar a última cena dançando comigo. Que insistente continuava ali...
Não que os dias de sol não tenham sua beleza, longe de mim afirmar isso, mas me diz, quem mais sabe apreciar, livre como o lago, um dia de chuva?

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O preço.

E se eu abrir essa porta, o que acontece?

E abriu. Teimosa, sempre quis saber o que havia por trás do silêncio.
É claro que ele não deveria ser rompido. Você sabe quão doloroso pode ser a quebra de algo que se construiu sobre bases sólidas?
O preço? A sua vida.
Não, você não vai morrer. Não no sentido literal da palavra. Por quebrar o segredo do mundo você deve continuar viva. Deve sentir o que tem por trás do além. Você deve ver o que não pode ser visto. Sentirás dor, mas não poderá ser curada. Desesperos de quem tá cansada de tentar. Perderá toda a fé em qualquer coisa, e não terá nada a que se agarrar nos dias em que se sentir só. Tudo por ter aberto a porta.
Tudo por ter visto. Feito esfomeada mendigará um pouco de atenção. Será tratada por médicos que ficarão conhecidos por tratar loucos. Tomará em vão remédios que serão vistos como remédios de loucos. Andará alheia pelas ruas, verá beleza no movimento das águas, das folhas, na chuva. Você assustará as pessoas. Me diz, menina. Que beleza carrega a loucura? Quem acreditará em você?

Me diz até quando você pode continuar?
Quem pode acreditar em alguém que não tem braços pra carregar a própria vida?

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Duelo

Existem dois cavaleiros.

Um deles usa um escudo branco, limpo, leal, quase divino. Uma armadura prateada tão impecável quanto a clareza de seus olhos, sua espada brilha em tamanha intensidade que é capaz de ofuscar a vista do inimigo.

O outro tem um escudo ouro envelhecido, tão belo, peça rara, de encher os olhos. Sua armadura tem algumas marcas de combate, é fosca, não sei deduzir a cor, ele está sempre do lado mais escuro da batalha. Sua espada por fim não possui nenhuma beleza, mas possui a frieza dos que sabem onde devem levá-la para chegar ao fim de uma guerra.
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Enquanto eles dois duelam vacilantes, no espaço sobram espadas, escudos, no ar viajam os erros, os desencontros, os golpes todos são recebidos e silenciados pelo palco de um desastre iminente: o meu peito.

Não existe mais lado bom ou ruim, não existe mais o predileto, agora existe somente a vontade de que um deles vença para que silencie essa luta dentro de mim.

Existe somente a vontade de chegar ao fim
seja ele pra mim bom ou inevitavelmente ruim.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Isso acaba?

É chegar ao máximo da humanidade. Admitir à outra pessoa que precisa dela. Implorar uma mão pra segurar a tua cansada. É pedir para alguém um carinho, um colo, um gesto. Uma palavra qualquer.
E se essa mão não vem, e se mesmo assim as palavras continuam sem viajar no ar, e se mesmo assim o carinho, o colo, os gestos, todos os olhares são negados. E mesmo assim, o máximo só pode ser atingido se entenderes a continuidade do tempo. Ninguém pode ser ruim por não te amar. Mas isso não lhe confere direito de ser insensível. O tempo ensina que nada é imortal a não ser ele mesmo. Negar acolher é ainda permitir que o outro morra. É permitir que o amor morra, que as lembranças boas de todas as manhãs, tardes e noites vividas se desfaçam dentro do nada que é a memória de quem foi pra nunca mais voltar.
Mas também só o dono da dor sabe o seu tamanho. E de tão grande ela se torna incomunicável. Como dizer a você que te vi como uma maneira de salvar a minha vida? Como dizer que se eu me calar agora vou sufocar? Como dizer que estou sufocando? Que estou morrendo de morte matada por mim e não quero párar? Eu quero que os dias acabem para não ter mais que abrir os olhos para um novo dia onde todas essas esperas sequem a minha garganta. Onde todos os erros me abracem ao mesmo tempo e me apertem tão, mas tão forte que meu corpo não aguente mais de dor. E essa dor me faça desejar ter fé em algo que faça isso cessar. Como te dizer tudo isso se você não vem? Como fazer isso parar?

Deve ter algo, um sentido, uma resposta. Mas... onde está?

Onde você está?

Vai.

Quando esquecer se torna uma necessidade.***************
************A necessidade fica esquecida dentro do ontem.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Sem fim.

O desejo contido no peito.
Na garganta o grito
Nas mãos o vazio
Nos braços abraços não dados
A boca seca da falta
Os olhos molhados de cansaço
O coração no céu
Dentro dos olhos o último olhar
Dentro da lembrança a última frase

Eu vou te esperar.


Nada é último quando a espera finda.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Adentra.

______________As palavras sobrepostas
____com facilidade do vôo leve de borboleta
________________quando se achegavam coloridas
________________carregadas de esperança
__________________ao se afastarem enegreciam
_________levando a dor anunciada.
______Elas é que me salvavam.
Suas asas de traços finos
_______escreviam em meus olhos a paciência;
_______________só o amor é providencial na espera.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Se liga, menininha.
























Deixa a vida correr, as coisas sempre partem pro inevitável.
Você nunca cansa? Você cansa as pessoas, sabia?
Essa mania de insistir que o caminho que você escolheu é o único que se há pra percorrer soa como birra de criança diante da ausência do doce preferido.
Você ficou parada por um tempo que não soube estimar diante do espelho, analisando seus olhos vermelhos, a lembrança mais clara da noite que passou. O seu cabelo caía por cima do seu rosto, quase que propositalmente para esconder o que sentira ao se ver.
Você resolveu que devia tentar. E achou que era digno continuar. Mas até você cansa, aquele cansaço de quem não tem perguntas a fazer, mas de quem precisa falar, de quem precisa explicar, de quem precisa dividir tudo isso que expande dentro de ti, encurtando sua respiração e esmagando todos os outros pensamentos que pudesse ter. Tomou conta de ti. Aquele cansaço de quem tenta gritar, mas não tem ouvidos para lhe ouvir.
Ali em frente ao espelho você tenta analisar o que tem te acontecido então. O que tem mudado seu jeito de agir, seu ímpeto ariano, sua personalidade escorpiana, logo você, duplamente regida por Marte agora parecia um desertor pedindo abrigo no peito do inimigo.
Logo você, que sabia lidar tão bem com a dor, com o silêncio alheio, com a necessidade de solidão de si mesmo. Que sabia continuar, mesmo quando não tinha mais em que acreditar. Deve ser isso, você não acha que seja possível mais continuar sem sentido. E você precisa desse sentido. Quando ele aparece, você vai sem pensar se é realmente de verdade, você se agarra como se aquela fosse sua última oportunidade de ser feliz. Você sufoca, você fere, você cansa. Você projeta, e se decepciona. Você decepciona também, e tenta mais uma vez.
Que medo é esse de não ser feliz, menininha? Até que ponto você precisa descer pra enxergar que no fundo só tem lodo e que é escorregadio, e se você chegar lá, você pode querer não voltar... você pode querer concentrar tudo isso que te resta de energia para se afogar nos sem fundos da tua alma. É mais fácil que encarar mais uma, é?
Amanhã, contra tua vontade o dia acorda novamente, o sol vai brilhar, as pessoas vão se casar, se separar, engravidar, amar, a vida vai continuar, e você vai ficar aí parada em frente a esse espelho tentando descobrir de quem é a culpa?
Não fala nada. Engole esse amor todo. Engole essa necessidade de outro corpo pra completar o teu. Engole esse desejo que te queima, engole essa dor latejante. Amanhã o dia acorda e quando o sol bater na janela do teu quarto vai enxergar o papel pendurado por um adesivo velho, e vai se lembrar do dia que essa perda mais te doeu, no papel você escreveu pra ti mesmo, porque precisava deixar o outro ser, você precisava deixar ele escolher continuar com ou sem você; o papel gritava teu nome, jogando todas as dores na cara: Se liga, menininha.

Se ligou?

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Ganapatya

Esperando que todas essas arestas dos lugares por onde passo, todas essas pontas, essas quinas onde bato meus pés nas noites escuras não me impeçam de continuar acreditando que um dia acordarei no lugar onde o mundo será feito de contornos macios e suaves, feito a curva que observo agora, bem onde termina o seu pescoço e começa o ombro, esse ombro que sequer é meu, mas é onde encaixo perfeitamente meu rosto cansado de tentativas frustradas. É claro que por trás dessa maciez de te imaginar meu ainda existem os ossos que sustentam o seu corpo abaixo de mim. E que a rigidez por baixo dessa pele pode ser tão dura quanto a vida, quanto acordar todos os dias rezando para que a mentira alheia não atrapalhe a minha verdade, desejando que as horas passem para voltar a ter segurança do corredor que se alonga até meu quarto, e que mesmo ferido de quinas e arestas meus pés encontrem o conforto necessário para sonhar o amanhã, não mais na curva do seu ombro, mas no encontro sincrônico do desenho emoldurado no seu peito: o seu coração.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Os olhos do coração.

Não era bem assim. As palavras soltas voavam junto ao vento dessa tarde de verão. Era verão, estava chovendo e frio. Meus cabelos estavam despenteados e os cotovelos ralados do balaustre mal feito da sacada. Meus olhos estavam cansados de mirar o ponto cinza e verde que se desenhava por trás do carro vinho estacionado do outro lado da rua. Ao lado da minha cama tinha uma porção de livros interminados. Eu lia um pouco de cada vez, pra que as histórias se misturassem, eu gostava da sensação de não estar lendo a mesma história que alguém já leu. Era como segurar o exato momento do sentido de um estranho. O suspiro da frase. As visitas estavam na sala. Era, obviamente, final de semana. Todos estavam deitados no tapete marrom e aconhegante, rindo, bebendo e falando coisas banais. Dessas que falamos quando nos sentimos a vontade na presença de alguém. Da sacada, meus olhos se desviaram do verde-cinza irremediável do dia. Em um movimento lento e preguiçoso eles buscavam o que jamais poderiam ver. Eles te queriam sentado na praça, onde aquelas folhas estavam todas despedaçadas no chão, eles te queriam de camiseta preta, desajeitado, sem saber onde colocar as mãos enquanto pensa no tempo que passa, enquanto inseguro imagina o que há de ser do nosso futuro. Enquanto aflito não sabe se deve ou não deitar ao meu lado. Eu te queria ali porque saberia que não poderia ter. Não era só a sacada que nos separava, não eram só meus olhos lentos e preguiçosos que não te encontravam, não era só a praça que estava molhada da chuva desfazendo a imagem serena de pintura de criança que eu tinha de você, era você também. Você não vinha, mesmo quando eu te chamava. Era um grito interno, pronto pra explodir dentro de mim. Mas eu tinha medo de assustar os passarinhos, porque quando você não vinha era neles que meus olhos dormiam, estáticos feito estátua de mármore desencantada. O grito morria preso entre a garganta e a boca e o ar que eu juntava nos pulmões me sufocavam cada vez que eu percebia que não poderiam me ouvir se eu não falasse. Era simples assim, óbvio assim. Mas eu queria ir além do óbvio. E você estava acima do simples. Talvez por isso escapasse das minhas mãos, feitas senão para o aparato rústico. A minha força bruta esmagaria sua perfeição de cristal.
E eu o queria vivo, inteiro, mesmo que longe. Como o queria. Em sua perfeição de pássaro caído sobre as folhas despedaçadas da praça que, na contramão do meu desejo, começava a anoitecer.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Digno.

Imaginar pássaros no plano azul do fundo da minha tela.

Certas vezes voo rasante. Outras tantas solidão.
Voam plenos longe do alcance da minha visão.

Construir o irreal surreal desfigura o real
quem disse o que suportamos pra viver?
in tuição.