segunda-feira, 18 de julho de 2011

De mim pra mim

Como esperar algo dentro do esperado vindo dela?

É o que todos pensarão quando anunciar sua nova loucura.

E há tempos ela se indaga se amor é mesmo essa coisa que acaba repentinamente, como a escuridão se vai quando a luz é acesa. Pensa que o cara que inventou a iluminação artificial comprou uma briga feia com a sequência fatídica das coisas, também conhecida como destino, deus, capeta, todas essas coisas para quais as pessoas dão nomes por não suportarem se entregar ao desconhecido. Virava a cabeça de lado e ria ironicamente quando pensava nisso, seus olhos brilhavam por estar acima dessas convenções tão humanas. Ah, convenções humanas, tinha arrepios de lembrar dos encontros familiares que cessaram com a morte de seus avós. Ela os amava, é verdade, e daria seus rins para curá-los se não tivesse que passar todo natal e virada de ano naquele circo armado que as pessoas teimavam em chamar de confraternização. Uma lavação de roupa suja escancarada, típica família. Nas mãos agora a oportunidade de mudar os rumos, de construir uma família com bases solidificadas somente na verdade, por mais que ela pudesse, as vezes, doer ou causar intenso prazer. Se a verdade doer ainda poderia fazer careta, viva à manifestação da coisa viva, nem ia ficar assim pra sempre se passasse um anjinho e assoprasse.

Durante todo o tempo que fugiu da sua predestinação marcada por um encontro de terceira, ela ecoava pela cidade cinza de tão vazia que vivia.

Ela não pensava muito no que poderia ter acontecido durante o tempo que passara. Passou, né? E se passou está irremediavelmente enterrado no ontem.

O dia novo que cessa a escuridão natural atravessa a sua janela trazendo ao seu dia milhões de interrogações que não precisam de respostas. Ela está finalmente livre. Para se estar livre é preciso que um dia tenha estado preso, por isso as pessoas não sabem definir a liberdade, porque ela é essa coisa que amarra nenhuma pode conter. Há que se desfazer dos conceitos e antes ainda dos pré-conceitos. E de todas as formas de ser, de aprender a ser, de todos os moldes da sociedade, de todos as enumerações didáticas e valiosas sobre a vida. Há que se abster de toda compreensão, não há nada a ser compreendido. Somos a continuidade de algo que não necessita explicações por não ter nome. E por não ter nome nao é aceito. Algo que não tem nome não pode ser estudado, destrinchado, escarafunchado, transformado em um padrão cognitivo aceitável. Abre os olhos para a vida que queima lá fora, pensa nisso com destreza, coloca primeiro o pé esquerdo no chão, porque hoje nenhuma crença a contém, nada mais é capaz de ditar os rumos de sua felicidade.

E vai...

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