sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Balões vermelhos, borboletas azuis.

E tudo voa no meu céu
Os pés descalços e a imaginação
O sorriso em folha branca e amarela
A esperança singela
Da moça que na calçada sentada absurda
espera a volta do ser que espera ser amado.

Os macacos voam no meu céu
Em galhos verdes e rosas, plantando rosas
no meu pensamento
Dessas que de todo tormento só absorvem
meu coração.

O porta-retrato dos punhos cerrados
O medo, os olhos negros, a esperança pintada
de verde. O coração na cabeça.
É assim que ela funciona agora. Pulsando.
Pulsante.
Assim o dia passa.
E me leva mais uma vez pra calçada.
Esperar o inesperado.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Mais um ano. Menos um depois.

Quando vai chegando o fim de todo ano eu fico nostálgica. Até teve época em que eu me empolgava com essa palhaçada arranjada pra celebrar sei lá eu o que. Acho que nessa época eu não pensava no real motivo dessas comemorações. Era também esta época composta de quando eu achava legal sair pra balada, encher a cara, tirar milhões de fotos com um monte de gente que não faz parte da minha vida de verdade. Aliás, vocês já perceberam como essas pessoas são todas tão parecidas? Com suas franjas retas, seus cabelos lisos, batons vermelhos, roupas de couro, sorrisos trincando para a câmera DSLR que você mal sabe focar. Longe de mim afirmar que eu não goste de sair com os amigos, beber, dar umas boas risadas, trocar uns abraços, garantir conversas interessantes; mas eu to cansada. Isso não quer dizer também que não me encontrará por aí nas noites. Eu adoro noite, adoro o clima que ela me provoca e as sensações que causam em meu corpo. Também não quer dizer que eu seja uma nerd que só goste de filme cult, literatura internacional, biologia e caras que usem palavras como “avassalador”¹ e “formidável”¹. Nem quer dizer que eu prefira ficar lendo sobre política que fazer sexo. Sexo, esse mesmo, casual ou não. Sem compromisso, ou com ele, com todas as irresponsabilidades que isso pode acarretar ao meu desconhecido futuro. É, e eu sei bem disso. Mas esse ano foi um divisor entre: ontem você era menina, e agora, meu bem, você PRECISA ser mulher, SE VIRA.

Aí eu mudei um pouco as minhas buscas, dei uma ajustada no meu filtro seletivo e voilà. Eu comecei a lidar melhor comigo. Pirei de clinica, de terapia, me droguei até os tubos pra acabar com o vazio que eu vivia. Não adiantou. Ou você aprende a viver com ele, ou ele te devora. Você precisa aprender a ser sozinho. E isso não significa que não possa aparecer uma pessoa legal, que te complete quando estão juntos. Que fique em silêncio ao seu lado e te faça mesmo assim ouvir a plenitude do momento. Às vezes essa pessoa vem disfarçada de príncipe encantado, às vezes o destino te joga na cara que quem vai te comer melhor, é o lobo mau, meu bem. Sem meias palavras, sem flores no bolso, cavalos brancos, ele vai chegar e te deixar feliz as poucas vezes que o ver sorrir de verdade. Ele não vai te responder sempre que você precisar, mas vai te fazer querer mais todas as vezes que fizer isso. Sem principismos², sem cavalheirismos, sem romantismos desnecessários, afinal, isso aqui é vida real. Vai te acontecer de tudo, tua vida vai virar uma novela mexicana, e você vai chorar sem nenhum motivo aparente. Mas vai valer a pena. Pelo momento, pelo agora. Você precisa enfrentar essa mania de querer viver as coisas pro futuro. É hoje, é tudo ou nada.

Ser mãe tem me livrado diariamente de cair fundo dentro de mim. Os sorrisos, o carinho sem pedir, os beijos, as manhas, os trejeitos, o verbo rasgando a garganta. Ei, menina, me respeita, sou tua mãe. Os clichês, todos eles. É tão vida real que me faz querer sempre mais. Ela me desperta pra eterna primavera de viver. E por conta desse amor sem pedidos sobra amor em mim pra tentar mais uma vez. A ela eu devo a minha vida, sem essas frases pré-fabricadas de textos de terceira categoria. Devo a vida mesmo, já teria cortado os punhos e cessado esse pulsar descompassado do meu coração não fosse ela. Tiro, faca, corda, overdose de calmante, já pensei em tudo. Meu psiquiatra disse pra eu segurar a barra. É uma das poucas coisas que ele sempre me diz. Quem segura minha barra é ela, doutor.

Esse foi o ano da calmaria, nada mais me abala sem controle. Eu perdi o medo de perder o controle. Aprendi com uma amiga que pirar pode ser bom, quando a lucidez vai embora fica tudo certo. Fica tudo em seu devido lugar. O pânico me ensinou que meu corpo é só um instrumento de manifestação, e que ele pode sim me boicotar se eu não me cuidar. Ele quase me enlouqueceu desejando controlar as sensações. Primeiro você cai, depois fica irremediável. As crises me fizeram desejar existir esse deus que eu deixei de acreditar quando recebi o certificado do crisma. Mas eu cultivei belas crenças. Eu acredito em tudo que existe, você vê. Ah! Esse meu Deus. Esse aí com letra maiúscula me faz acreditar na energia que faz as coisas acontecerem. Ele é só meu, tão intimo e conhecedor de todos os meus desesperos. É real.

Bem, claro que meus desejos para a próxima fictícia volta da Terra ao Sol é que muitas coisas mudem pra melhor, mas algumas coisas ruins devem sempre acontecer, pra nos lembrar da verdadeira essência de viver. O aprendizado. Claro que eu desejo amor, desejo de verdade. O amor me move, me faz querer ser melhor. E o amor da Clara me faz viver. Desejo agora algum que encerre essa necessidade de continuar desejando que alguma coisa que eu não sei o que é aconteça. Se for como num conto de fadas, que a fera vire príncipe, e me leve pra morar em um mundo encantado dentro de mim. Que tenha paciência pra fazer da vida real um trabalho diário de conto de fadas. E que se assim não for, que ainda apareçam oportunidades pra viver o amor, pra mim e pra você. Que minha família me ampare como sempre fez, que meus irmãos estejam sempre à minha frente me ensinando tudo que preciso saber, que meus pais continuem me ensinando o que é amar, simplesmente me amando. Que seja sempre diferente do ontem, do hoje, de todo dia. Que a Clara continue me ensinando que viver pode ser uma bela surpresa, principalmente quando se tem algo em que acreditar. Um motivo pra continuar.

Obrigada 2010.

¹ - Obrigada pela contribuição Janderson Bueno. Hahahaha. Meu tão querido.

² - Ato de ser príncipe encantado – de dar flores, ser educado, retornar todas as ligações, responder todas as mensagens, recitar poemas, te preparar jantares vegetarianos, e ainda dizer que ficou linda de cabelo rosa. Não ser coberto por tatuagens, nem freqüentar o cinema de chinelos havaianas da Argentina. Não te dizer coisas como: “é o que tem pra hoje”, e muito menos te dizer que está “gorda”, que é “feinha, mas tá pegando”. E todas as outras atribuições que soem negativas para a imagem de um verdadeiro gentleman.

Meus agradecimentos à família que não partilha meu sangue. E algumas nem o mesmo espaço físico:

Juliana Molás, sem palavras por tudo, nega. Te amo.

Hacsa Mariano, minha loira. Eu só não te amo mais porque você é muito gostosa.

J., o Acre existe. Obrigada pelas cores, menina do parquinho.

Milady, você precisa acreditar mais em você. Como eu acredito.

Cacatua que voa no meu céu, obrigada por dar asas a minha imaginação.

E as que não são do sangue por força do destino... família por escolha deles, meus irmãos, minhas queridas. (Dedy, a Clarinha é minha, =P)

E a todos que são esporádicos, mas verdadeiros o meu muito obrigada.


E que venha mais um ciclo.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Would you erase me?

O silêncio é o que mais me incomoda.

Essas respostas que não chegam. As nulidades. Quem consegue ignorar os sentimentos estampados na cara?
Insistir quando você sabe como vai terminar pode ser a maneira mais doentia de querer sofrer. Você precisar testar seus limites assim?
Eu, como covarde que sou, prefiro espalhar as lembranças pelo quarto, e acreditar que o motivo que faz as coisas não darem certo é essa minha mania de mostrar quem sou. Quem precisa saber como sou de verdade? Eu cansei de ser boneca de porcelana de estante. Ou você convive com a pessoa que sou de verdade, ou não vai conviver com ninguém. Claro que é uma pretensão absurda desejar que alguém esteja pronto pra lidar com a minha falta de sobriedade. Mas eu cansei...
Deveria ser triste saber que alguém não está pronto pra lidar com você e na verdade é, mas eu atribuo essas sensações ao não-sou-de-mim. Eu sei que o apego é pela carência extrema e que logo mais o dia chega. Então, passa essa bola. 'Tornar o amor real é expulsá-lo de você pra que ele possa ser de alguém' já dizia Nando Reis. É isso, sem criar monstros. Tá tudo certo, amanhã eu encontro alguém preparado pra lidar comigo, ou não. Disposto a me dar respostas ou me fazer perguntas.

Depois eu choro e esvazio.
Tá tudo bem, mesmo.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Dentro de mim.

Eu não tenho coragem.

Ela tem vontade de estourar a minha cabeça com o barulho seco de um tiro dentro dela. Tem vontade de tomar barbiturico com ansiolitico vodca e soda caustica. Tem vontade de pular no mar e virar carapaça de crustáceo. Acidificar.

Mas eu não tenho coragem.

Essa pessoa que mora dentro de mim vive me lembrando o quanto a minha vida é inutil e o quanto as minhas conquistas na verdade não foram minhas. Ela me lembra que nem quem eu acho que depende de mim, depende na realidade. Ela torna impossível as minhas vontades. Ela senta no meu colo e fica me pedindo carinho, esperando que eu a abrace, e a sufoque junto com todas as minhas mágoas, mas ela é tão bonita. Ela é tudo isso de profundo que há em mim. É nela que eu posso nadar, eu sou rasa, superficial. Tá tudo bem, eu aceito encarar mais uma bebida e depois enfiar o dedo na garganta pra vomitar a pessoa que aparece no espelho. Eu aceito encarar mais um amor e sangrar a dor de ter perdido depois. Eu aceito tudo.
E quando tudo é aceito, onde tudo é aceito... não sobra espaço pra mim. Ela se prende por entre meus músculos e não tem vontade de sair. A cada falsa esperança que eu vivo ela se fortalece. Ela me consome. Respira meu ar, mastiga minha carne, rouba minhas idéias.

Não ser ninguém deve ser confortável perto da luta diária que travo com ela. Essa lucidez me prende a essa realidade. Quando você enlouquece tudo faz sentido. Até essas convenções didáticas e tão humanas me incomodam. A gente classifica tudo, a gente quer respostas, mas não sabemos fazer as perguntas. A gente quer amor, mas não queremos nos doar. Ninguém quer sofrer, mas todo mundo está cansado de tentar. Que diferença faz a minha idade? Quem teve a idéia de numerar os acontecimentos? De contar as horas? De mudar os anos? De cortar a vida em fatias? Quem alimentou o ego desse monte de gente solitária vivendo dentro de um mundo que não existe? Qual a unidade real?

O que é real?

Dá licença, mundo, eu quero descer. Dá licença, vida. Me deixa morrer.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Você me permite?

Eu preciso lhe pedir licença para sentir esse carinho, que é por você, mas no fundo é que me salva.

Preciso te contar que sem saber porque, sem saber onde isso ia dar eu arrisquei, não é isso que as pessoas fazem pra se livrar de si mesmos? Elas se buscam em outras pessoas, e às vezes elas se encontram.
Eu me busquei, era como saber existir esse pedaço de mim que não conhecia. Era um oposto que causava esse desejo de me saber em você. Eu soube? Você soube?
E negar a intensidade de nosso pouco tempo é algo que me ajuda a superar a dor de não ser acreditada. Eu preciso que você acredite no que não vê. Preciso que acredite no que não sente, porque está antes dentro de mim.
Eu tenho medo de insistir demais, ou de não insistir e deixar o tempo passar. O tempo passa, não? E ai eu fico só, com esse nó na garganta. Com essa coisa travada dentro do peito, com esse grito silencioso que rompe todos os pedaços da minha constante sanidade libertária.
E sobre a insistência, como saber os meios pra chegar a ti? Não devo insistir mais... devo lembrar-lhe somente que estava com você, e que assim continuo, que eu ainda estou aqui, atrás dessa mesma mesa poída, cheia de papéis espalhados de textos que me escapam pelos dedos, cheia de mágoas atravessadas entre meu corpo e minhas mãos. Com mensagens não respondidas, com desejos mal disfarçados, com essa dor cortante dentro de mim. E a causa, é essa incompreensão que os olhos podem nos trazer ao coração.
Aí eu fico aqui, te falando bobagens, sobre qualquer coisa. Quando a gente precisa que alguém fique a gente constrói qualquer coisa, fala sobre qualquer coisa. Eu preciso que você fique, você me entende?
Eu preciso que você fiquei porque agora já começou, como se para em meio o processo? Porque agora mesmo que a gente fale de desejo, de amor, paixão... já é tarde demais para tudo se transformar só em palavras. Foram vida, sentimento.
Eu preciso que saibas que ainda que você não queira eu estaria aqui, que ainda que você não suporte, que ainda que você não sinta. Eu estaria aqui.
Sabe? Estou naquela luz de fim de tarde que entra pela janela do seu apartamento enquanto a gente se olha. Você sabe do que estou falando?
Estou falando de uma coisa que eu não senti sozinha, e sei. Eu sei porque você me abraçou. Porque dentro dos teus braços eu encontrei proteção, não sobrou espaço, nem em mim, nem em você.

Estou lhe perguntando se me permite. Me permite o carinho, o desejo, os beijos, até os não dados, as conversas intermináveis, as horas que não passam quando não está. Você me permite gostar de você? Amor, paixão, loucura. Te quero tanto e tão bem. Você me permite?

Quem sabe assim você acredita na minha sinceridade. Acredite.