sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Balões vermelhos, borboletas azuis.

E tudo voa no meu céu
Os pés descalços e a imaginação
O sorriso em folha branca e amarela
A esperança singela
Da moça que na calçada sentada absurda
espera a volta do ser que espera ser amado.

Os macacos voam no meu céu
Em galhos verdes e rosas, plantando rosas
no meu pensamento
Dessas que de todo tormento só absorvem
meu coração.

O porta-retrato dos punhos cerrados
O medo, os olhos negros, a esperança pintada
de verde. O coração na cabeça.
É assim que ela funciona agora. Pulsando.
Pulsante.
Assim o dia passa.
E me leva mais uma vez pra calçada.
Esperar o inesperado.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Mais um ano. Menos um depois.

Quando vai chegando o fim de todo ano eu fico nostálgica. Até teve época em que eu me empolgava com essa palhaçada arranjada pra celebrar sei lá eu o que. Acho que nessa época eu não pensava no real motivo dessas comemorações. Era também esta época composta de quando eu achava legal sair pra balada, encher a cara, tirar milhões de fotos com um monte de gente que não faz parte da minha vida de verdade. Aliás, vocês já perceberam como essas pessoas são todas tão parecidas? Com suas franjas retas, seus cabelos lisos, batons vermelhos, roupas de couro, sorrisos trincando para a câmera DSLR que você mal sabe focar. Longe de mim afirmar que eu não goste de sair com os amigos, beber, dar umas boas risadas, trocar uns abraços, garantir conversas interessantes; mas eu to cansada. Isso não quer dizer também que não me encontrará por aí nas noites. Eu adoro noite, adoro o clima que ela me provoca e as sensações que causam em meu corpo. Também não quer dizer que eu seja uma nerd que só goste de filme cult, literatura internacional, biologia e caras que usem palavras como “avassalador”¹ e “formidável”¹. Nem quer dizer que eu prefira ficar lendo sobre política que fazer sexo. Sexo, esse mesmo, casual ou não. Sem compromisso, ou com ele, com todas as irresponsabilidades que isso pode acarretar ao meu desconhecido futuro. É, e eu sei bem disso. Mas esse ano foi um divisor entre: ontem você era menina, e agora, meu bem, você PRECISA ser mulher, SE VIRA.

Aí eu mudei um pouco as minhas buscas, dei uma ajustada no meu filtro seletivo e voilà. Eu comecei a lidar melhor comigo. Pirei de clinica, de terapia, me droguei até os tubos pra acabar com o vazio que eu vivia. Não adiantou. Ou você aprende a viver com ele, ou ele te devora. Você precisa aprender a ser sozinho. E isso não significa que não possa aparecer uma pessoa legal, que te complete quando estão juntos. Que fique em silêncio ao seu lado e te faça mesmo assim ouvir a plenitude do momento. Às vezes essa pessoa vem disfarçada de príncipe encantado, às vezes o destino te joga na cara que quem vai te comer melhor, é o lobo mau, meu bem. Sem meias palavras, sem flores no bolso, cavalos brancos, ele vai chegar e te deixar feliz as poucas vezes que o ver sorrir de verdade. Ele não vai te responder sempre que você precisar, mas vai te fazer querer mais todas as vezes que fizer isso. Sem principismos², sem cavalheirismos, sem romantismos desnecessários, afinal, isso aqui é vida real. Vai te acontecer de tudo, tua vida vai virar uma novela mexicana, e você vai chorar sem nenhum motivo aparente. Mas vai valer a pena. Pelo momento, pelo agora. Você precisa enfrentar essa mania de querer viver as coisas pro futuro. É hoje, é tudo ou nada.

Ser mãe tem me livrado diariamente de cair fundo dentro de mim. Os sorrisos, o carinho sem pedir, os beijos, as manhas, os trejeitos, o verbo rasgando a garganta. Ei, menina, me respeita, sou tua mãe. Os clichês, todos eles. É tão vida real que me faz querer sempre mais. Ela me desperta pra eterna primavera de viver. E por conta desse amor sem pedidos sobra amor em mim pra tentar mais uma vez. A ela eu devo a minha vida, sem essas frases pré-fabricadas de textos de terceira categoria. Devo a vida mesmo, já teria cortado os punhos e cessado esse pulsar descompassado do meu coração não fosse ela. Tiro, faca, corda, overdose de calmante, já pensei em tudo. Meu psiquiatra disse pra eu segurar a barra. É uma das poucas coisas que ele sempre me diz. Quem segura minha barra é ela, doutor.

Esse foi o ano da calmaria, nada mais me abala sem controle. Eu perdi o medo de perder o controle. Aprendi com uma amiga que pirar pode ser bom, quando a lucidez vai embora fica tudo certo. Fica tudo em seu devido lugar. O pânico me ensinou que meu corpo é só um instrumento de manifestação, e que ele pode sim me boicotar se eu não me cuidar. Ele quase me enlouqueceu desejando controlar as sensações. Primeiro você cai, depois fica irremediável. As crises me fizeram desejar existir esse deus que eu deixei de acreditar quando recebi o certificado do crisma. Mas eu cultivei belas crenças. Eu acredito em tudo que existe, você vê. Ah! Esse meu Deus. Esse aí com letra maiúscula me faz acreditar na energia que faz as coisas acontecerem. Ele é só meu, tão intimo e conhecedor de todos os meus desesperos. É real.

Bem, claro que meus desejos para a próxima fictícia volta da Terra ao Sol é que muitas coisas mudem pra melhor, mas algumas coisas ruins devem sempre acontecer, pra nos lembrar da verdadeira essência de viver. O aprendizado. Claro que eu desejo amor, desejo de verdade. O amor me move, me faz querer ser melhor. E o amor da Clara me faz viver. Desejo agora algum que encerre essa necessidade de continuar desejando que alguma coisa que eu não sei o que é aconteça. Se for como num conto de fadas, que a fera vire príncipe, e me leve pra morar em um mundo encantado dentro de mim. Que tenha paciência pra fazer da vida real um trabalho diário de conto de fadas. E que se assim não for, que ainda apareçam oportunidades pra viver o amor, pra mim e pra você. Que minha família me ampare como sempre fez, que meus irmãos estejam sempre à minha frente me ensinando tudo que preciso saber, que meus pais continuem me ensinando o que é amar, simplesmente me amando. Que seja sempre diferente do ontem, do hoje, de todo dia. Que a Clara continue me ensinando que viver pode ser uma bela surpresa, principalmente quando se tem algo em que acreditar. Um motivo pra continuar.

Obrigada 2010.

¹ - Obrigada pela contribuição Janderson Bueno. Hahahaha. Meu tão querido.

² - Ato de ser príncipe encantado – de dar flores, ser educado, retornar todas as ligações, responder todas as mensagens, recitar poemas, te preparar jantares vegetarianos, e ainda dizer que ficou linda de cabelo rosa. Não ser coberto por tatuagens, nem freqüentar o cinema de chinelos havaianas da Argentina. Não te dizer coisas como: “é o que tem pra hoje”, e muito menos te dizer que está “gorda”, que é “feinha, mas tá pegando”. E todas as outras atribuições que soem negativas para a imagem de um verdadeiro gentleman.

Meus agradecimentos à família que não partilha meu sangue. E algumas nem o mesmo espaço físico:

Juliana Molás, sem palavras por tudo, nega. Te amo.

Hacsa Mariano, minha loira. Eu só não te amo mais porque você é muito gostosa.

J., o Acre existe. Obrigada pelas cores, menina do parquinho.

Milady, você precisa acreditar mais em você. Como eu acredito.

Cacatua que voa no meu céu, obrigada por dar asas a minha imaginação.

E as que não são do sangue por força do destino... família por escolha deles, meus irmãos, minhas queridas. (Dedy, a Clarinha é minha, =P)

E a todos que são esporádicos, mas verdadeiros o meu muito obrigada.


E que venha mais um ciclo.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Would you erase me?

O silêncio é o que mais me incomoda.

Essas respostas que não chegam. As nulidades. Quem consegue ignorar os sentimentos estampados na cara?
Insistir quando você sabe como vai terminar pode ser a maneira mais doentia de querer sofrer. Você precisar testar seus limites assim?
Eu, como covarde que sou, prefiro espalhar as lembranças pelo quarto, e acreditar que o motivo que faz as coisas não darem certo é essa minha mania de mostrar quem sou. Quem precisa saber como sou de verdade? Eu cansei de ser boneca de porcelana de estante. Ou você convive com a pessoa que sou de verdade, ou não vai conviver com ninguém. Claro que é uma pretensão absurda desejar que alguém esteja pronto pra lidar com a minha falta de sobriedade. Mas eu cansei...
Deveria ser triste saber que alguém não está pronto pra lidar com você e na verdade é, mas eu atribuo essas sensações ao não-sou-de-mim. Eu sei que o apego é pela carência extrema e que logo mais o dia chega. Então, passa essa bola. 'Tornar o amor real é expulsá-lo de você pra que ele possa ser de alguém' já dizia Nando Reis. É isso, sem criar monstros. Tá tudo certo, amanhã eu encontro alguém preparado pra lidar comigo, ou não. Disposto a me dar respostas ou me fazer perguntas.

Depois eu choro e esvazio.
Tá tudo bem, mesmo.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Dentro de mim.

Eu não tenho coragem.

Ela tem vontade de estourar a minha cabeça com o barulho seco de um tiro dentro dela. Tem vontade de tomar barbiturico com ansiolitico vodca e soda caustica. Tem vontade de pular no mar e virar carapaça de crustáceo. Acidificar.

Mas eu não tenho coragem.

Essa pessoa que mora dentro de mim vive me lembrando o quanto a minha vida é inutil e o quanto as minhas conquistas na verdade não foram minhas. Ela me lembra que nem quem eu acho que depende de mim, depende na realidade. Ela torna impossível as minhas vontades. Ela senta no meu colo e fica me pedindo carinho, esperando que eu a abrace, e a sufoque junto com todas as minhas mágoas, mas ela é tão bonita. Ela é tudo isso de profundo que há em mim. É nela que eu posso nadar, eu sou rasa, superficial. Tá tudo bem, eu aceito encarar mais uma bebida e depois enfiar o dedo na garganta pra vomitar a pessoa que aparece no espelho. Eu aceito encarar mais um amor e sangrar a dor de ter perdido depois. Eu aceito tudo.
E quando tudo é aceito, onde tudo é aceito... não sobra espaço pra mim. Ela se prende por entre meus músculos e não tem vontade de sair. A cada falsa esperança que eu vivo ela se fortalece. Ela me consome. Respira meu ar, mastiga minha carne, rouba minhas idéias.

Não ser ninguém deve ser confortável perto da luta diária que travo com ela. Essa lucidez me prende a essa realidade. Quando você enlouquece tudo faz sentido. Até essas convenções didáticas e tão humanas me incomodam. A gente classifica tudo, a gente quer respostas, mas não sabemos fazer as perguntas. A gente quer amor, mas não queremos nos doar. Ninguém quer sofrer, mas todo mundo está cansado de tentar. Que diferença faz a minha idade? Quem teve a idéia de numerar os acontecimentos? De contar as horas? De mudar os anos? De cortar a vida em fatias? Quem alimentou o ego desse monte de gente solitária vivendo dentro de um mundo que não existe? Qual a unidade real?

O que é real?

Dá licença, mundo, eu quero descer. Dá licença, vida. Me deixa morrer.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Você me permite?

Eu preciso lhe pedir licença para sentir esse carinho, que é por você, mas no fundo é que me salva.

Preciso te contar que sem saber porque, sem saber onde isso ia dar eu arrisquei, não é isso que as pessoas fazem pra se livrar de si mesmos? Elas se buscam em outras pessoas, e às vezes elas se encontram.
Eu me busquei, era como saber existir esse pedaço de mim que não conhecia. Era um oposto que causava esse desejo de me saber em você. Eu soube? Você soube?
E negar a intensidade de nosso pouco tempo é algo que me ajuda a superar a dor de não ser acreditada. Eu preciso que você acredite no que não vê. Preciso que acredite no que não sente, porque está antes dentro de mim.
Eu tenho medo de insistir demais, ou de não insistir e deixar o tempo passar. O tempo passa, não? E ai eu fico só, com esse nó na garganta. Com essa coisa travada dentro do peito, com esse grito silencioso que rompe todos os pedaços da minha constante sanidade libertária.
E sobre a insistência, como saber os meios pra chegar a ti? Não devo insistir mais... devo lembrar-lhe somente que estava com você, e que assim continuo, que eu ainda estou aqui, atrás dessa mesma mesa poída, cheia de papéis espalhados de textos que me escapam pelos dedos, cheia de mágoas atravessadas entre meu corpo e minhas mãos. Com mensagens não respondidas, com desejos mal disfarçados, com essa dor cortante dentro de mim. E a causa, é essa incompreensão que os olhos podem nos trazer ao coração.
Aí eu fico aqui, te falando bobagens, sobre qualquer coisa. Quando a gente precisa que alguém fique a gente constrói qualquer coisa, fala sobre qualquer coisa. Eu preciso que você fique, você me entende?
Eu preciso que você fiquei porque agora já começou, como se para em meio o processo? Porque agora mesmo que a gente fale de desejo, de amor, paixão... já é tarde demais para tudo se transformar só em palavras. Foram vida, sentimento.
Eu preciso que saibas que ainda que você não queira eu estaria aqui, que ainda que você não suporte, que ainda que você não sinta. Eu estaria aqui.
Sabe? Estou naquela luz de fim de tarde que entra pela janela do seu apartamento enquanto a gente se olha. Você sabe do que estou falando?
Estou falando de uma coisa que eu não senti sozinha, e sei. Eu sei porque você me abraçou. Porque dentro dos teus braços eu encontrei proteção, não sobrou espaço, nem em mim, nem em você.

Estou lhe perguntando se me permite. Me permite o carinho, o desejo, os beijos, até os não dados, as conversas intermináveis, as horas que não passam quando não está. Você me permite gostar de você? Amor, paixão, loucura. Te quero tanto e tão bem. Você me permite?

Quem sabe assim você acredita na minha sinceridade. Acredite.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

domingo, 24 de outubro de 2010

Tua voz minha.

É que às vezes me falta inspiração...

Eu até arranho as paredes pra ouvir o som que sai da ponta de meus dedos; não tem palavra, não tem vida, os desenhos se perderam. Se você apurar os ouvidos ainda consegue fazer sentido. Mas e eu?






É como fazer, no exato
momento que você queria, alguém olhar bem dentro dos seus olhos. É mais do que querer, é precisar. É temer a falta disso. É sufocar de voz rouca, gritando as palavras que por tantas vezes estiveram dentro de seu corpo. A música não ocupava somente a minha cabeça, ela percorria meu sangue, vazava de meus poros. O seu suor tinha o cheiro caracteristico dos que lutam pela mesma causa. Mesmo depois de tantos anos você me afetava como a primeira vez em que ouvi seu timbre.

E toda vez que as músicas entrarem pelos meus ouvidos, eu vou tremer, vou sentir tudo à minha volta se transformar em uma só nota, entrar na tua frequência, sonhar seus sonhos e amar seus ideais. Eu te esperei por tanto tempo que minha visão perdeu a nitidez. Os acordes da guitarra, se misturavam faceiros aos braços que se sobrepunham falando em gestos, transformando meus olhos em leitores de todo grito engasgado.

Eu abandonei aquele lugar com medo dos meus desejos. Tua voz, teus gritos, teus olhos de certeza não eram mais suficientes. Eu não suportava achar que você podia me fazer feliz e não estava fazendo, eu te odiava por isso; como podia ser assim? Era uma emboscada dos meus instintos, desviando toda a minha atenção da percepção do mundo real. De repente eu comecei a acreditar que ia acontecer simples como dentro de um sonho de bailarina; acordei com um empurrão dado pela vida: ouça aqui, mocinha, não pense que não precisa acordar. Acordei. O que afinal rege essas condições humanas a que somos submetidos? E abandonei... Eu te queria; era a verdade.


E fui embora por não poder te ter.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

É toda vez...

Eu não queria que nossa história começasse com "Era uma vez...", eu queria que a nossa história continuasse sempre de onde ela começou ontem, e anteontem, e todos os dias. Eu não queria ter que contá-la sabendo do dia em que ela teve seu fim. Por mais bonito que pudesse parecer, por mais doce que seu beijo fosse ao tocar meus lábios pela última vez numa história de amor eterno, eu ainda prefereria que nosso amor fosse eternamente de verdade, sabe?! Com aquela coisa de ciúmes, de paixão, de dentes, de paz... sossego. Eu queria que a gente pudesse dançar juntos e também conversar sobre a parcialidade de todas as coisas, que pudessemos falar de Marx, de Jung, de Antonioni, que pudessemos assistir juntos Godard ou Chaves. Que um dia eu riria pelo seu modo desajeitado de falar inglês e você riria porque eu tenho medo de escadas abertas. Queria te provocar e todas as vezes ouvir que te deixo louco. E queria te trazer pra mim como tenho feito essas vezes. Queria mesmo ainda ver seus olhos se desviarem dos meus, queria testar sua timidez mais quantas vezes me fosse permitido. E queria que no fim você se rendesse e se libertasse como acontece sempre. E queria que esse sempre fosse uma constante novidade. A eterna novidade em que vivemos. O não saber o que acontecerá amanhã me deixa com o coração inerte. Não saber se devo esperar você bater na minha porta ou se devo bater na sua me faz perder o brio. E nunca saber se estou agindo da maneira certa. Se era só uma grande bobagem, ou se devo mesmo ficar tentando adivinhar o que você pensa. Talvez seja só essa grande verdade: se você quisesse que eu soubesse o que pensas, me diria. E é tudo simples assim. Mas eu não gosto de coisas simples. Eu tenho essa mania de querer coisas impossíveis. Mania de gente intensa. Eu vivo aos extremos e espero demasiado, sou feliz em plenitude, e capaz de amar a passos largos, mas posso sofrer terrivelmente, e sofro.
Um dia desses eu ainda vou te ligar pra falar sobre a vida, te contar da minha, ainda vou aparecer na porta da sua casa, gritar seu nome, riscar seu carro, queimar suas roupas, te olhar nos olhos e eu posso fazer tudo isso por querer-te bem demais, ou posso fazer só pra essa história não terminar no inevitável "Era uma vez..."

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Na minha janela
















É a sua imagem se insinuando pra mim

em reflexos no vidro da janela do meu quarto.

Eu aperto os olhos o mais forte que eu posso,

e então você me aparece por dentro,

te cubro em pensamento

pra ver se flutuas pra longe de meus desejos.

E te encontro despido, dentro do meu coração.

Assim mesmo, como eu nunca vi, mas sempre desejei.

domingo, 5 de setembro de 2010

Insinuante solidão

Eu pensei até mudar esse design aqui. Me pareceu tão desinteresssante. De repente era só minha vida transformada em palavras que não são lidas.
Pensei em deletar também. Contei até dez e respirei fundo. Eu lembrei de todas as vezes que deletei os números da agenda do meu celular e de tantas outras que apaguei os e-mails, e como isso nunca foi suficiente.
Ai eu pensei em sentar e ler um livro e sentei, e eu chorei por 45 minutos e depois pensei por outros 30. Essa vida de aparências tá acabando comigo. Sorrir pra solidão sempre foi meu maior desafio. E eu estou sucumbindo. As minha alma está ferida de tentar sobreviver. E na guerra os cansados sempre ficam pra trás. O meu sofá sabe mais de mim que o meu espelho.
Eu pensei em fazer uma porta-painel onde eu pudesse escrever todos os dias coisas que soassem como música clássica em ouvidos apurados. E quando não quisesse mais ler era só abrir as portas. Mas eu só pensei, tudo que penso não se transforma no que faço. E o que faço se transforma imediatamente em coisas que não deveriam ter sido feitas.
E eu fico aqui pensando em uma maneira de sair de toda essa mesmice, de todo esse circulo vicioso e entediante. E pensar tem arruinado os meus dias.
Então pensei em desistir, não como ato de covardia, mas como ato de coragem. Dar um passo pra trás e começar de novo. Começar de onde?

Eu só preciso descobrir onde minha vida se perdeu.

sábado, 4 de setembro de 2010

In felicidade.

Sobrevivo.

Vivo sobre meus medos e decepções.

E sobreponho minhas neuroses.

Ponho sobre mim todas as armaduras.

E sigo. Assim. Sobreposto, sobrevivente.

domingo, 29 de agosto de 2010

Visão poética do fim.

Presenciar o fim de algo que se constrói arduamente sobre bases que cedem à menor pressão é ainda assim doloroso e emudecedor.

Era como se todas as minhas aflições voltassem à tona em um piscar de olhos inundados. Porque amar dói assim? E porque mesmo quando o amor não é mais suficiente pra nos manter unidos a dor é dilacerante?
A dor gritante do corpo alheio é ainda mais massacrante e legitima do que a tua. É sim. E me dói em dobro ver sofrer um coração que aprendi a amar.

Aceitar que fomos feitos para a solidão é algo que tentamos fugir diariamente. Entender que desde o primeiro momento nesse mundo somos arrancados e cortados da união única e leal é aceitar que nascemos para a solidão e que passamos a vida em desespero tentando modificar essa verdade.

Entender e aceitar essa verdade é viver a vida em acordo com a sua totalidade, não que isso nos livre da dor. Nem é isso que queremos. Sem a dor nem mesmo reconheceríamos o momento em que ela cessa. Alguém me livre da felicidade plena, pois embora eu passe a minha vida em busca dela, o que movimenta é esse quase. E o que me faz amar novamente é o fim de um amor eterno, e o que me faz querer amar incessantemente é acreditar que sozinho não se consegue a felicidade. Então é esse nosso ad infinitum. Vivemos em busca de amor para nos livrar da solidão de nós mesmos. Chamamos a essa busca de felicidade. E é por isso que não há no mundo sequer uma pessoa que saiba descrever o que é ser feliz.

É por isso que em realidade não existe amor eterno, o amor é perecível, tanto quantos os vínculos que o une. Ele é a resposta à pergunta que não sabemos calar em nosso corpo: porque a solidão dói tanto?

Nós não nos aceitamos em plenitude. E é por isso que o amor não é suficiente.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

E agora, o que eu escrevo?

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Cor também dói.

E de alegria elas flutuavam no céu, imaginosas. Estar sentada no meio-fio era como contemplar a arte sobrepondo as minhas idéias. E o que mais existe se não for a arte de representar? A vida se apresenta em peças itinerantes, jocosa e desatenta. A vida é a arte de viver.



E há a linha muito tenuê que separa os interesses dos desavisados. É claro que a minha alma não suportaria mais quinze demonstrações de felicidade plena. Logo minha alma que se sustenta de uma tristeza caracteristica de quem só encontra refúgio nas palavras. De quem só encontra a paz em meio à guerra que vive. De quem foge de conversas pré-fabricadas e da superficialidade que banaliza um amor que poderia ser eterno.

Era sempre bom quando eu podia escolher os caminhos por onde andar. Agora tropeço em um vazio inquietante mascarado por uma realeza absoluta. Eu estou. Me faz relembrar o passado que morto repousa em cantos escuros da minha memória.

Os lugares por onde ando me trazem de volta pra uma vida que eu já vivi e me faz perguntar se será eterno esse ciclo de acontecimentos sucessivos e intermináveis que se parecem, enfim. E não querer saber a resposta é aceitar a realidade que vivo. O motivo, esse já não me cabe entender.

Triste.

Meu coração entristece cada vez que percebo que amo uma criação de um ideal.

.

domingo, 22 de agosto de 2010

Energia redentora

É essa energia que trabalha para equilibrar o universo que as pessoas chamam de Deus?

Ah tá.

Acho que estou partilhando a compreensão universal agora.

Amém.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Puzzle

A minha memória recolhe com cautela

todas suas partes

e tece um manto onde deito agora

para em sonhos encaixar você inteiro;

em minha vida.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Ainda não

Ah, a madrugada...

- O que eu faria se eu soubesse que aquela seria nossa última vez? Eu teria dito em seu ouvido que seu sorriso era o mais pueril objetivo de meus pensamentos? Teria tocado seu rosto com as mesmas mãos que o troquei por vazio? Teria te dito em silêncio todas as palavras de um quase amor ou quem sabe meu abraço esculpiria pela última vez seu corpo no meu tatuando em ti as minhas formas?

Eu teria ficado um tempo enorme admirando você existir. Eu teria girado no sentido anti-horario pra atrasar o giro do planeta fazendo-te demorar ao meu lado. Eu teria te amado pela primeira e última vez, e entregado meus sentidos para que soubesse como eu era. Eu teria feito tanto coisa que acabei morrendo em uma motilidade de não fazer nada. E eu não fiz. E você não foi, fui eu quem saiu pela porta sem se despedir. Eu troquei seu sorriso de dias longos por noites curtas e solitárias. Eu que não mereço te amar. E por isso eu não amo.

Foi um quase.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Ela vem.

Quando o frio sufoca e me inibe.
.
Inebrio, recolho em mim
.
as rosas amassadas;
.
não tarda o inverno anuncia seu fim.
.
e a primavera ingênua se exibe
.
feito borboletas no jardim.

Quase

Ver-se partindo

o
desejo. esperado

é o que diz-se do
beijo não dado

de mãos soltas, de cabelo inundado

de pranto. de mágoa.

visível nos olhos do ser

que espera. ser
amado.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Interno



Infinito e perene, a noite agora ia além e sempre feito passarinho em festa, dançando em água de inevitável navegação. Aos passos, todos os lados, lisos; e lábios se desenham em laços por trás da amplitude de anil eterna. Ao toque eu entrego esse instante, que não é só, é mais, é plenitude, é gota em oceano de cegueira. Me toca e entrego inteiro a profundidade desses pés em céu azul; céuaoléu-dossel, entrego-te a célula, a vida, o anel em flor, o invólucro inviolável da amêndoa, o todo de uma parte que se parte em estrela. A cauda de um cometa que se enrola adorável ao sol. Te entrego coração partido, para que mesmo de partida esteja sempre de chegada, e até em negação acreditando que a mais linda borboleta é aquela que não podemos tocar.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Vermelho

Era cor misteriosa;

Desvenda-me e empalideço.

Monossilábica.

É.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Coração da minha vida.


Eu andei vivendo em tantas coisas.
Era como se o tempo passasse no compasso de uma música. Eu tenho dançado em descobertas acima da escala do amor eterno.
Perdi o medo do desconhecido, no lugar deste adentrou um sentimento inequívoco,que só se conhece em plenitude ao despertar todos os dias com a primavera dos sorrisos a buscar seus olhos.
É como se todas os dias fossem feitos de verdade. E todas as palavras fizessem sentido aos ouvidos antes entupidos de sirenes e sussuros.
Sua pele clara faz meus anos valerem por dez. E sua autenticidade me faz cavar as mais profundas incertezas de um futuro que não se demora.
Dizer que te tenho seria um erro sem igual. Quem me tem em suas mãos pequenas e suaves é você. Me tem em cada fio de seu cabelo desgrenhado de tanto aprender. De tanto viver.
Todas as vezes que te tenho em meus braços é como se a linha do horizonte se desmanchasse em um prazer de unir todas as coisas numa só. É como se o mundo fosse um completo inteiro.
Te ter nos braços me dá a certeza da capacidade que tanto duvido nos dias lá fora. E meus olhos não podendo suportar transbordam, deixando escapulir todo esse amor que não me cabe. O nosso cuidado silencioso não tem peso e nosso silêncio é cortado pelas batidas do nosso coração.
São dois anos de êxtase puro. Duas vidas vividas em um só plano. Anos em que a felicidade consome todo o meu corpo tomando conta de tudo ao meu redor.
Você está fora da minha realidade, é minha viagem mais viva, meu segredo mais bem guardado. Minha lembrança de como é bom viver.
Mais um ano de sorte. Mais um ano de amor. E se pareço inintelígivel aos olhos alheios é por conta dessa maneira nova de ser chamada pelos lábios rosas de amor infinito: mamãe.

É, só as mães são felizes.

Felicidades, coração meu. Em mais um ano.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Escarlate

Toda busca finda em si mesmo.

É um cheiro quente, acre, venenoso. Sua afinidade permite que percorra meu sangue em cada gota, e esse ar obriga que eu o sinta em toda nessecidade de respirar.
É um ad infinitum, sempre quase, um ainda não que me persegue. Esse gosto, deveria ser proibido. Gosto de vida, ditoso, febril.

Ele te pega pelos cabelos e te assanha ao meio-dia, em meia hora, o dia inteiro, toda noite, em seus sonhos, no pé da sua cama. Em forma de gente, animal, de homem.
Dentro de você, em seus poros, seus gemidos. Bocas entreabertas, sussuros; morde meus lábios, entrelaça meus dedos, pisca meus olhos, ganha minhas curvas, ama-me, assim, aos poucos, aos pedaços.

Criminoso de quem recusa seus eixos, seu calor, seu encaixe dissimulado. Condenado está a passar a vida morna, pálida. As noites em mansão fria, em um grande castelo de folhas rabiscadas, de quases, de luzes acesas; te levanta da cama, que é onde ele não te aquece.

Levanta-te, que esse reino em prece pertence aos que se atrevem, aos que vão ao fundo dos medos, e arriscam-se acima de todos os nãos. Aos que entregam o corpo, a alma, o coração, aos que doam todas as palavras rendidas, suas vergonhas, o arrepio na nuca, o agora e o nunca. Aos que doam seus tremores, seu suor, seu abraço em corpo nu, seu côncavo, suas buscas, sua vida escondida. Aos que não tem medo desse ímpeto que queima a pele, essa manifestação de vida que preenche o ar.

Aos que não tem medo do amor; esse desejo escarlate.

terça-feira, 13 de julho de 2010

De volta em mim.


Nos últimos tempos ela tem procurado.
Tenta tirar de dentro de ti toda essas dúvidas. Mas tudo que encontra é inconsciência. É engraçado como não sabe bem ao certo quando as coisas começaram. A busca dela é sempre a mesma.
E ela se encontra em todas as pessoas. Ela faz parte de cada partícula que compõe o universo.
Tudo está à sua volta.
Lembra-se do trem que esperava quando criança. Seus olhos atentos regozijavam-se fitando o horizonte, que morria em uma curva de não-saber-pra-onde-vai. E ela não gostava de não saber o que esperar. E esteve pensando, que a vida era sempre esse não saber o que virá, nem de onde vem.
Esteve pensando que pensar seria a coisa que a afastaria do todo, de um universo cheio de não-sei-oquê.
E cansada, esvaziou a cabeça. Ela agora só esperava o trem. Queria de volta o seu nada. O seu bem-querer.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Meu doce amor.


Era como estar na fila do carro de sorvete aos 10 anos de idade, desejando que quando chegasse a minha vez ainda restasse ao menos uma bola de sorvete de chocolate. O meu favorito.
Às vezes eu chegava lá segurando em minhas mãos a esperança minada. 'Ainda temos creme, morango e passas ao rum.' - Eu tenho 10 anos. Não tente me corromper.
Mas quando eu chegava e via o chocolate ainda reluzente em seu pote, me esperando, pensava: valeu a pena trazer em minhas mãos frias todo esse dinheiro contado e esse pote sedento por algo que lhe preenchesse.
Eu não fazia como as outras crianças, antes de comer, mesmo em sol escaldante, eu sentava e ficava um tempão olhando, admirando a minha sorte. Era como uma prece. Uma adivinhação do por vir. Hoje eu não tomo mais sorvete de chocolate. Minha saúde anseia por outros gostos.

O amor é essa mesma loteria de sorvete de quarta-feira à tarde. Eu custo conseguí-lo. Fico segurando nas mãos seus verbetes, suas chances, minhas esperanças minadas. Quando o consigo, estarrecida, sento com ele entre minhas mãos, boquiaberta, ele é como uma prece. Os meus olhos sentem seu ar gelado que me percorrem o corpo, sua suavidade de partida. Ele me deixa sem palavras, e eu o quero tanto, eu o desejo como uma criança sedenta por sorvete de chocolate. Quero devorá-lo em cada pedaço, comer seu nome. Sentí-lo dentro-dentro de mim. Minhas mãos suam, e ele começa a se perder entre meus dedos. Eu não quero que ele se vá. Quanto mais a febre desse desejo me consome, mais meu corpo esquenta. O amor escorre em meu colo, desce pelas minhas pernas. Deixa marcas de sua liquidez em mim. Me faz tremer em cada poro. Me faz chorar em cada gota que escorre, antecipando sua partida.

E eu fico a te esperar. Dentro de mim; eterno gosto meu.

domingo, 9 de maio de 2010

Intocável

Eu não conto mais o tempo por mim. Há muito eu deixei de ser eu pra ser nós.

Eu já teria desistido. Não fosse pelo sorriso de dentes abertos, pelos cabelos desgrenhados, os olhos, os meus olhos nela. Eu já teria desistido se não tivesse mais o que contar, meus olhos teriam perdido o brilho completo não fosse o brilho dela. Eu passo os dias a pensar como será o futuro. Eu espero em cada passo dela que o meu esforço faça sentido.

Por ela eu deixei de ouvir quando me dizem coisas que não concordo. Deixei de dizer coisas que não acredito. E tomei coragem pra mudar as coisas que não aceito.

Eu acordava todos os dias pro mesmo dia, até que ela me fez acordar cada dia em um dia diferente. Me dói até saber que meu tempo com ela é muito menor do que eu desejaria.

Ser mãe me livrou da insanidade, me tirou do abismo sem fim que mora dentro do meu peito. Acalmou meu coração e aliviou todas as minhas dores.

Ser mãe dela me fez ser mais eu.

Feliz dia das mães pra mim. Feliz dia das mãe pra ela.

domingo, 2 de maio de 2010

Vontade.

Eu quero ir.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Páginas de um caderno de sonhos.

E no fim das contas o que importa realmente?

Não, ela não tem um bom emprego, não agora; ela não tem tempo pra perder.

O amor escapuliu por entre seus dedos e voou juntos com a areia em uma praia, um lugar onde ela nunca mais alcançará. Suas mãos cansaram de segurar restos de um todo. De uma verdade de mentira.

Em sua cabeça além de longos cabelos negros encontram-se idéias. O que de mais valioso alguém pode carregar se não suas idéias?
Em sua pele morena a marca do intemperismo que a vida causou à sua força de pedra. O tempo desgastou seus contornos e limou seus cantos.

Sua busca incessante nunca se finda, nem mesmo quando seu grito emudece atados pelas cordas da decepção. Seus braços um dia fortes de carregar a vida, agora se tornam pêndulos que trazem traços de uma maturidade doída, aprendida dia após dia, vida-a-vida.
Em seus olhos escuros da noite vemos o dia amanhecendo tímido ansiando raios por onde brilham sua alma.

E ela espera, sentada na sala, no chão do quarto, no meio da bagunça que saira de dentro de seu corpo e ocupara toda a sua casa. Tudo está à sua volta.

O seu lugar? Quem sabe onde será...

A sua luta seca se estilhaça, se prende e se agiganta para do alto achar pés que pisam a areia onde um dia o amor se perdeu, a luta se estica e pinta um céu azul cheio de colorido e faz encher de esperança um coração onde tudo se quebrara. E traz, um dia, pés para caminhar ao lado dos seus, pisando a areia onde um dia o amor há de se encontrar.

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Para mim um lindo presente, e pra ela uma eternidade de palavras.
Vai, minha amiga, ser feliz pra sempre!

Amo você.

domingo, 4 de abril de 2010

Sobre as escolhas.

E o que você faz quando as melhores escolhas lhe parecem as grandes bobagens?

Alice fechou o livro não suportando saber a resposta da última frase que lera. Recostou a cabeça na madeira branca da cama, e deixou seus olhos percorrerem sua janela, mesmo sabendo que não viria as estrelas.
Ela queria tudo menos pensar que todas suas boas escolhas estavam perdendo o sentido. Talvez um outro caminho. Outras escolhas, em uma outra cidade, precisava falar mas não sabia se alguém poderia ouvir.

As mãos e olhos perfeitos que a tocavam não faziam mais soar a música febril em sua alma, mas era tão pouco tempo, como poderia ter se deixado levar? Ele tinha a perfeição métrica de quem sabe existir, e ela não conseguia conviver com a idéia de co-existir em sua perfeição, essa foi a desculpa que inventou para si, mas ela sempre soube que amar fora seu maior anseio, e que de tanto amar errado se descobriu seca, dentro e fora. Tudo que lhe sobrara não era suficiente para tudo que recebia.

Ela nascera para a solidão. Soubera disse porque sobrava no canto da sala, porque sempre seu telefone emudecia, e suas mãos buscavam toques e encontravam o vazio.
Ela nascera pra sentar na janela e admirar as estrelas. Para encontrar filmes que preenchessem seu vazio, para ler livros, e nas entrelinhas desenhar seu rosto.

Agora ela desenhava no vidro empoeirado de sua janela, uma, duas, três estrelas, a quem pudesse pedir que respondessem a sua pergunta. Ela nem queria mais que isso, sua pretensão se resumia àquela que você tem quando lê o horoscopo do dia no jornal... sem esperar que ele lhe diga o caminho a seguir, porque você já não sabe se deve acreditar nessas bobagens, e no fundo desejando que ele discretamente lhe aponte uma direção. Nem que seja uma direção para seguir, e só.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Ele.

Ela se perguntava se tudo dependia de escolhas.
Não conseguia mais compreender atitudes, nem tampouco imaginar os motivos das mesmas.

Ela tinha uma rosa, e coloridos. Estava de uma maneira abusiva nada sensual. Talvez isso tivesse incomodado as outras pessoas, esse chamar atenção não pela beleza. Cresceu aprendendo artificios de como ser mágica sem ter prática com as cartolas, os coelhos e os truques.

Não bastasse os problemas que se sobrepunham em cima da mesa, ela ainda tinha esses que eram criados pelo falso moralismo, pela deslealdade e as cortinas de fumaça ao amanhecer.

Ela fechava os olhos e se via em meio a grunhidos selvagens em pleno cenário urbano. E junto deles todos seus planos de fundo coloridos foram desmoronando em um cinza escuro desconsolador.

A vida é feita de escolhas. E as escolhas elegem a vida que você vai viver.
Nesse momento, Alice pensava que elegeu os tecidos claros, e a pele branca, que os olhos devessem ser da cor da alma, e o sorriso fosse sincero como acordar ao lado de alguém depois de 5 anos de casados.

Ela queria viver, viver suas escolhas e se as mesmas fossem como abrir o dicionário e encontrar em seu sinônimo palavras destrutivas, ela estava disposta a enfrentar.

Porque ela não sabia que nenhuma palavra pudesse ficar tão bela quanto aquelas do dente torto e dos olhos da alma.

Nenhuma.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Sou céu.


Todos os dias, eu sento na cama e penso: preciso escrever.

Esses sentimentos todos que se misturam dentro de mim se perdem em cada palavra que deixo de anotar.

Como se minha vida não tivesse mais importância ela vai passando como uma projeção pela janela do meu quarto novo. Eu pensei que talvez fosse essa esperança mal acabada que iluminou meus dias desde que conheci, sentada em um banco, o barulho de um mar que me trazia todas as respostas das perguntas que eu nunca ousei fazer.
E as respostas, viram dúvidas. E as dúvidas ensurdecem meus ouvidos e fazem do mar um plano de fundo que acalenta e acalma meu coração, cansado dessas incertezas.

Eu quero é ir-me embora. Eu cansei de ser céu, sob um chão em que pés pisam duros e onde não ousam tirar os sapatos. Eu quero sentir. Eu preciso tocar.

Eu vivi meus últimos anos fugindo desses toques. Dessas dores. Desse chão de pedra. Eu quero um lugar onde meus pés se misturem fartos com a natureza, onde eu seja o céu, a tocar meus dedos entre a areia branca e quente que faz meu sangue pulsar, onde eu possa me sentir viva e acreditar mais uma vez em mim.

Eu quero isso, eu quero vida. Acreditar em mim. Em nós. Eu preciso disso.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Primeiro desenho.

Alice da janela do quarto consegue contar todas as estrelas que seus olhos alcançam.
Ela, imóvel, contém todos os sentimentos.

Soube que essa era a primeira noite de um ano novinho em folha. Que aquelas estrelas, tanto quanto ela estranhavam o cheiro de novo que pairava no ar.
Tentou fazer uma lista enumerando o que queria esse ano. Mas se ateve, ela não queria nada que pudesse descrever em palavras.

Por trás de todas essas coisas que desejamos está sempre aquilo que não se mostra, todo desejo subentende uma coisa que se revelada faria os pêlos do corpo se erguerem em um horror frenético, como se estivessem a fugir da pele que esconde tamanho segredo.

É que ninguém quer acabar o primeiro dia do ano vendo noticiário. E Alice, cansou do cinza da solidão. Ela desenhou esse ano em um albúm de pintura. E na sua lista fracassada só continha um item. Mais lápis de cor.

E quando lhe faltarem braços pra colorir Mey sempre sabe pôr cor em cada lacuna de sua vida. Ela pensou que agora vai precisar de ajuda, pois serão muitos dias para colorir.

Despreocupada, fechou seu livro colorido em um tom azul escuro, com pontos brilhantes no céu, e soube que alguém jamais teria uma visão como aquela.

Pensou que para as próximas noites ela queria desenhar um parque, um mar. Sorrisos de crianças, e mãos dadas.

Alice nunca soube descrever, só soube ir vivendo.

E ela desenha, o que nunca soube descrever, e nunca teve oportunidade de viver... o amor.