terça-feira, 29 de junho de 2010

Meu doce amor.


Era como estar na fila do carro de sorvete aos 10 anos de idade, desejando que quando chegasse a minha vez ainda restasse ao menos uma bola de sorvete de chocolate. O meu favorito.
Às vezes eu chegava lá segurando em minhas mãos a esperança minada. 'Ainda temos creme, morango e passas ao rum.' - Eu tenho 10 anos. Não tente me corromper.
Mas quando eu chegava e via o chocolate ainda reluzente em seu pote, me esperando, pensava: valeu a pena trazer em minhas mãos frias todo esse dinheiro contado e esse pote sedento por algo que lhe preenchesse.
Eu não fazia como as outras crianças, antes de comer, mesmo em sol escaldante, eu sentava e ficava um tempão olhando, admirando a minha sorte. Era como uma prece. Uma adivinhação do por vir. Hoje eu não tomo mais sorvete de chocolate. Minha saúde anseia por outros gostos.

O amor é essa mesma loteria de sorvete de quarta-feira à tarde. Eu custo conseguí-lo. Fico segurando nas mãos seus verbetes, suas chances, minhas esperanças minadas. Quando o consigo, estarrecida, sento com ele entre minhas mãos, boquiaberta, ele é como uma prece. Os meus olhos sentem seu ar gelado que me percorrem o corpo, sua suavidade de partida. Ele me deixa sem palavras, e eu o quero tanto, eu o desejo como uma criança sedenta por sorvete de chocolate. Quero devorá-lo em cada pedaço, comer seu nome. Sentí-lo dentro-dentro de mim. Minhas mãos suam, e ele começa a se perder entre meus dedos. Eu não quero que ele se vá. Quanto mais a febre desse desejo me consome, mais meu corpo esquenta. O amor escorre em meu colo, desce pelas minhas pernas. Deixa marcas de sua liquidez em mim. Me faz tremer em cada poro. Me faz chorar em cada gota que escorre, antecipando sua partida.

E eu fico a te esperar. Dentro de mim; eterno gosto meu.

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