sábado, 5 de fevereiro de 2011

Presa em mim.

Marcas de mãos suadas, batida seca em vidro blindado. Uma, duas, três vezes.
Do lado direito corpos sorrisos pilastra camisa branca cerveja, estendo a mão pra tocar, bate dura contra o vidro. Do lado esquerdo corpos braços ritmo sorrisos - dessa vez familiares - barbas desejos, estendo a mão pra tocar, batida seca, vidro que não estilhaça.

Som bate pelo lado de fora do quarto de vidro que abafa antes que chegue aos meus ouvidos.
Será que lá de fora ousam perceber a minha ausência extrema desse lugar? É isso que me faz perceber o toque mas não sentir. Esse vidro me separando da realidade. E tudo que sinto, sai de mim, explode nos quatro cantos dessa forma geométrica de angulos retos e volta ressonante, nos ouvidos meu próprio coração, taquicardiaco bate a galopes, trôpego, feito cavalo sem rédeas. Selvagem. Nem o seu ritmo descompassado batendo nas paredes de vidro é capaz de rompê-la. E as coisas todas aqui dentro por não terem pra onde fugir, sem espaço de vazão, vão se acumulando nos cantos de mim. É o limite do espaço, do reflexo que não se concretizou, da imagem que não vejo, mas que está lá, da resposta que não tenho mas que desaguo de mim para lavar esse vidro marcado pelas minhas mãos suadas de tentativas desajeitadas. Te busco em vão, nos vidros meu reflexo se desfez como se desfaz nas poças d'agua em dia de chuva intensa. Não tem forma, só tem beleza. A beleza que dói por não ter olhos que a mirem. De fora o reflexo do vidro só te mostra você mesmo... ninguém pode me ver como sou, nenhuma mão pode ultrapassar essa casulo porque no erro ele se torna cortante. Na falta ele se torna pleno. Nada preenche a amplitude. Meus pensamentos como ecosonar. Meu orgão receptivo é o coração, despedaçado entre os passos errôneos desse animal selvagem que o conduz. Nos meus bolsos todas as armas que minhas mãos desfalecidas não conseguem alcançar.
O vazio da falta de respostas que nenhuma pergunta há mais de se fazer. E se há de ter forças para romper essa caixa que me contém, para que eu seja, para que possa estar.

Para que me toque e não mais somente perceba...
Para que me toque, vida, e eu possa dessa vez sentir.

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