quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Ro-encontro

Imóvel.

Era como se o chão que antes suportava os meus pés tivesse se desfeito. A minha cabeça, em segundos, registrou a cena, percebeu os movimentos, sentiu o céu e titubeante tentou decidir o próximo passo. Era como se todo o esforço diário pra esquecer sua presença em mim se transformasse em listras preto branco preto branco preto branco preto, sua presença não mais em mim, estava à minha volta. Tonta. Minha cabeça gira, meus olhos percorrem todos os lados, eu não tenho pra onde escapar. Voltar pra trás nunca foi uma opção. Pensa pensa pensa. Seus pés desviam, seu corpo brinca com o vaivém da minha indecisão. Você sempre teve esse dom de fugir mais rápido que eu. Costas, pernas, preto branco preto branco preto branco. Fones no pescoço, a vida antes distante adentra agora por seus ouvidos. O corpo em gesto inconsciente vira, volta. Reviravolta em mim. Nos seus ombros, no meus joelhos. Os meus passos se tornam pesados, meu pulmão parece desconhecer todo esse ar necessário pra me manter.

Imóvel, quando a minha vontade era correr pra lugar nenhum, pra todos os lugares, pros teus braços, pro meu conforto. Pra longe deles, pra longe desse lugar inóspito, longe dessa cidade. Pra fora dessa rua que tem o céu mais cinza que o anúncio da catastrofe que arrebentava em meu peito. Imóvel. Enquanto penso o que eu faço. Seus olhos nos meus, seu braço estendido, em meus ouvidos a frase estala feito tiro seco. ‘Pensei que você não ia parar’, eu não lembro de ter respondido, eu não lembro de poder falar nada, eu falei algo? Existia algo que pudesse responder essa exclamação? Braços em abraços, o preto branco cada vez mais perto, o cheiro, a curva, os meus olhos querendo escapar pra onde pudessem desaguar. O que eu deveria dizer ‘E não pára, não pára mesmo, me diz como, como faço pra parar essa dor sem remédio que ocupou seu lugar dentro de mim?’ ou ‘E isso faria alguma diferença pra você? Faz diferença eu estar aqui parada?’, mas eu não disse nada. Tudo bem? Tudo. To ligada no automático da vida. As respostas tão evasivas quanto ela. De onde vocês tão vindo? Pra onde vão? Os dedos, meus dedos entregando que não sabia o que fazer. A conversa sem rumo, a sua boca, mais branca que o de costume, e seus olhos que negavam meu olhar. Um desejo de bom filme, outro de bom trabalho. Meus pés se moveram como se não suportassem mais continuar sustentando o peso do meu corpo, o meu coração explodindo as lágrimas que não me permiti chorar. O meu desejo escapando das minhas mãos. Deveria ser proibido tanto amor assim em um só corpo. Um autoreconhecimento de não és amada em troca, e tudo subiria pelos ares feito o vapor quente do chá que tomo todas as noites pra tentar dormir desde que você foi embora. E quando penso já não consigo me lembrar. Preto branco preto branco preto branco. Foi embora. Porque mesmo se foi?

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