domingo, 9 de janeiro de 2011

Se liga, menininha.
























Deixa a vida correr, as coisas sempre partem pro inevitável.
Você nunca cansa? Você cansa as pessoas, sabia?
Essa mania de insistir que o caminho que você escolheu é o único que se há pra percorrer soa como birra de criança diante da ausência do doce preferido.
Você ficou parada por um tempo que não soube estimar diante do espelho, analisando seus olhos vermelhos, a lembrança mais clara da noite que passou. O seu cabelo caía por cima do seu rosto, quase que propositalmente para esconder o que sentira ao se ver.
Você resolveu que devia tentar. E achou que era digno continuar. Mas até você cansa, aquele cansaço de quem não tem perguntas a fazer, mas de quem precisa falar, de quem precisa explicar, de quem precisa dividir tudo isso que expande dentro de ti, encurtando sua respiração e esmagando todos os outros pensamentos que pudesse ter. Tomou conta de ti. Aquele cansaço de quem tenta gritar, mas não tem ouvidos para lhe ouvir.
Ali em frente ao espelho você tenta analisar o que tem te acontecido então. O que tem mudado seu jeito de agir, seu ímpeto ariano, sua personalidade escorpiana, logo você, duplamente regida por Marte agora parecia um desertor pedindo abrigo no peito do inimigo.
Logo você, que sabia lidar tão bem com a dor, com o silêncio alheio, com a necessidade de solidão de si mesmo. Que sabia continuar, mesmo quando não tinha mais em que acreditar. Deve ser isso, você não acha que seja possível mais continuar sem sentido. E você precisa desse sentido. Quando ele aparece, você vai sem pensar se é realmente de verdade, você se agarra como se aquela fosse sua última oportunidade de ser feliz. Você sufoca, você fere, você cansa. Você projeta, e se decepciona. Você decepciona também, e tenta mais uma vez.
Que medo é esse de não ser feliz, menininha? Até que ponto você precisa descer pra enxergar que no fundo só tem lodo e que é escorregadio, e se você chegar lá, você pode querer não voltar... você pode querer concentrar tudo isso que te resta de energia para se afogar nos sem fundos da tua alma. É mais fácil que encarar mais uma, é?
Amanhã, contra tua vontade o dia acorda novamente, o sol vai brilhar, as pessoas vão se casar, se separar, engravidar, amar, a vida vai continuar, e você vai ficar aí parada em frente a esse espelho tentando descobrir de quem é a culpa?
Não fala nada. Engole esse amor todo. Engole essa necessidade de outro corpo pra completar o teu. Engole esse desejo que te queima, engole essa dor latejante. Amanhã o dia acorda e quando o sol bater na janela do teu quarto vai enxergar o papel pendurado por um adesivo velho, e vai se lembrar do dia que essa perda mais te doeu, no papel você escreveu pra ti mesmo, porque precisava deixar o outro ser, você precisava deixar ele escolher continuar com ou sem você; o papel gritava teu nome, jogando todas as dores na cara: Se liga, menininha.

Se ligou?

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