domingo, 1 de novembro de 2009

Sem vestígios.

Ela se afasta sem dizer adeus.

Todos os dias eu pergunto o significado de todas as coisas em minha vida. As flores perdidas na calçada me anunciam a primavera, e quando eu caminho por elas me sinto pisando na vida curta que foi complexada. Mas sei que não foi em vão. Sei que não é nunca em vão.

É assim também com o amor. Ele reaparece em primaveras e me vejo pisando nele nas fotografias que não tirei. Eu fico esperando em cada flor que nasce que aquela seja a minha oportunidade.

As minhas asas se quebraram da última vez, mas eu aprendi a pedir vôo, eu estou sempre viajando nas asas alheias, e em dias tristes me vejo no cinza da rua pensando porque eu sou tão dependente.

Eu comecei a tecer minhas novas asas, elas são compostas de um tecido frágil, embora muito belo, nas pontas sua costura é reforçada, com brilhantes e verdades. Não é análoga a nenhuma outra asa, nem tampouco homóloga, é só minha, feita de mágoas e quedas, construída de mãos cansadas de sinalizar e continuar parada esperando que alguém a leve. Seu mecanismo de vôo escapa à compreensão de todos os estudiosos da biomecânica.

Eu a estou preparando na mansidão do meu quarto. E junto com ela arqueio meu corpo fazendo nele novos espaços onde elas possam se encaixar. As quero funcionais, de orgão vestigial já basta meu coração, cansado de ser estudado e não compreendido. Cansado de ser somente um índicio dessa minha evolução sem rumo.

Adrienne tem força para erguê-las e colocá-las na altura dos concâvos de minhas costas. E em meus sonhos eu a vejo fazendo, se virando. Alço vôo e a vejo indo embora. Sem nenhum adeus.

Se ela volta, eu nunca posso saber. Quem sabe meu próximo pouso, numa próxima parada.

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