sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Mais um ano. Menos um depois.

Quando vai chegando o fim de todo ano eu fico nostálgica. Até teve época em que eu me empolgava com essa palhaçada arranjada pra celebrar sei lá eu o que. Acho que nessa época eu não pensava no real motivo dessas comemorações. Era também esta época composta de quando eu achava legal sair pra balada, encher a cara, tirar milhões de fotos com um monte de gente que não faz parte da minha vida de verdade. Aliás, vocês já perceberam como essas pessoas são todas tão parecidas? Com suas franjas retas, seus cabelos lisos, batons vermelhos, roupas de couro, sorrisos trincando para a câmera DSLR que você mal sabe focar. Longe de mim afirmar que eu não goste de sair com os amigos, beber, dar umas boas risadas, trocar uns abraços, garantir conversas interessantes; mas eu to cansada. Isso não quer dizer também que não me encontrará por aí nas noites. Eu adoro noite, adoro o clima que ela me provoca e as sensações que causam em meu corpo. Também não quer dizer que eu seja uma nerd que só goste de filme cult, literatura internacional, biologia e caras que usem palavras como “avassalador”¹ e “formidável”¹. Nem quer dizer que eu prefira ficar lendo sobre política que fazer sexo. Sexo, esse mesmo, casual ou não. Sem compromisso, ou com ele, com todas as irresponsabilidades que isso pode acarretar ao meu desconhecido futuro. É, e eu sei bem disso. Mas esse ano foi um divisor entre: ontem você era menina, e agora, meu bem, você PRECISA ser mulher, SE VIRA.

Aí eu mudei um pouco as minhas buscas, dei uma ajustada no meu filtro seletivo e voilà. Eu comecei a lidar melhor comigo. Pirei de clinica, de terapia, me droguei até os tubos pra acabar com o vazio que eu vivia. Não adiantou. Ou você aprende a viver com ele, ou ele te devora. Você precisa aprender a ser sozinho. E isso não significa que não possa aparecer uma pessoa legal, que te complete quando estão juntos. Que fique em silêncio ao seu lado e te faça mesmo assim ouvir a plenitude do momento. Às vezes essa pessoa vem disfarçada de príncipe encantado, às vezes o destino te joga na cara que quem vai te comer melhor, é o lobo mau, meu bem. Sem meias palavras, sem flores no bolso, cavalos brancos, ele vai chegar e te deixar feliz as poucas vezes que o ver sorrir de verdade. Ele não vai te responder sempre que você precisar, mas vai te fazer querer mais todas as vezes que fizer isso. Sem principismos², sem cavalheirismos, sem romantismos desnecessários, afinal, isso aqui é vida real. Vai te acontecer de tudo, tua vida vai virar uma novela mexicana, e você vai chorar sem nenhum motivo aparente. Mas vai valer a pena. Pelo momento, pelo agora. Você precisa enfrentar essa mania de querer viver as coisas pro futuro. É hoje, é tudo ou nada.

Ser mãe tem me livrado diariamente de cair fundo dentro de mim. Os sorrisos, o carinho sem pedir, os beijos, as manhas, os trejeitos, o verbo rasgando a garganta. Ei, menina, me respeita, sou tua mãe. Os clichês, todos eles. É tão vida real que me faz querer sempre mais. Ela me desperta pra eterna primavera de viver. E por conta desse amor sem pedidos sobra amor em mim pra tentar mais uma vez. A ela eu devo a minha vida, sem essas frases pré-fabricadas de textos de terceira categoria. Devo a vida mesmo, já teria cortado os punhos e cessado esse pulsar descompassado do meu coração não fosse ela. Tiro, faca, corda, overdose de calmante, já pensei em tudo. Meu psiquiatra disse pra eu segurar a barra. É uma das poucas coisas que ele sempre me diz. Quem segura minha barra é ela, doutor.

Esse foi o ano da calmaria, nada mais me abala sem controle. Eu perdi o medo de perder o controle. Aprendi com uma amiga que pirar pode ser bom, quando a lucidez vai embora fica tudo certo. Fica tudo em seu devido lugar. O pânico me ensinou que meu corpo é só um instrumento de manifestação, e que ele pode sim me boicotar se eu não me cuidar. Ele quase me enlouqueceu desejando controlar as sensações. Primeiro você cai, depois fica irremediável. As crises me fizeram desejar existir esse deus que eu deixei de acreditar quando recebi o certificado do crisma. Mas eu cultivei belas crenças. Eu acredito em tudo que existe, você vê. Ah! Esse meu Deus. Esse aí com letra maiúscula me faz acreditar na energia que faz as coisas acontecerem. Ele é só meu, tão intimo e conhecedor de todos os meus desesperos. É real.

Bem, claro que meus desejos para a próxima fictícia volta da Terra ao Sol é que muitas coisas mudem pra melhor, mas algumas coisas ruins devem sempre acontecer, pra nos lembrar da verdadeira essência de viver. O aprendizado. Claro que eu desejo amor, desejo de verdade. O amor me move, me faz querer ser melhor. E o amor da Clara me faz viver. Desejo agora algum que encerre essa necessidade de continuar desejando que alguma coisa que eu não sei o que é aconteça. Se for como num conto de fadas, que a fera vire príncipe, e me leve pra morar em um mundo encantado dentro de mim. Que tenha paciência pra fazer da vida real um trabalho diário de conto de fadas. E que se assim não for, que ainda apareçam oportunidades pra viver o amor, pra mim e pra você. Que minha família me ampare como sempre fez, que meus irmãos estejam sempre à minha frente me ensinando tudo que preciso saber, que meus pais continuem me ensinando o que é amar, simplesmente me amando. Que seja sempre diferente do ontem, do hoje, de todo dia. Que a Clara continue me ensinando que viver pode ser uma bela surpresa, principalmente quando se tem algo em que acreditar. Um motivo pra continuar.

Obrigada 2010.

¹ - Obrigada pela contribuição Janderson Bueno. Hahahaha. Meu tão querido.

² - Ato de ser príncipe encantado – de dar flores, ser educado, retornar todas as ligações, responder todas as mensagens, recitar poemas, te preparar jantares vegetarianos, e ainda dizer que ficou linda de cabelo rosa. Não ser coberto por tatuagens, nem freqüentar o cinema de chinelos havaianas da Argentina. Não te dizer coisas como: “é o que tem pra hoje”, e muito menos te dizer que está “gorda”, que é “feinha, mas tá pegando”. E todas as outras atribuições que soem negativas para a imagem de um verdadeiro gentleman.

Meus agradecimentos à família que não partilha meu sangue. E algumas nem o mesmo espaço físico:

Juliana Molás, sem palavras por tudo, nega. Te amo.

Hacsa Mariano, minha loira. Eu só não te amo mais porque você é muito gostosa.

J., o Acre existe. Obrigada pelas cores, menina do parquinho.

Milady, você precisa acreditar mais em você. Como eu acredito.

Cacatua que voa no meu céu, obrigada por dar asas a minha imaginação.

E as que não são do sangue por força do destino... família por escolha deles, meus irmãos, minhas queridas. (Dedy, a Clarinha é minha, =P)

E a todos que são esporádicos, mas verdadeiros o meu muito obrigada.


E que venha mais um ciclo.

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