É assim que Alice costuma aparecer por entre as frestas das portas entreabertas.
Ela se esgueira, e vai deslizando entre as lacunas, até ganhar espaço. Ela tem um estojo de lápis de cor, que ela usa no terceiro ano da faculdade, ela não se importa com essas portas mal fechadas. Esses pré-conceitos.
Ela esqueceu de crescer, e colorir a vida pode diminuir o tamanho do vazio sem cor que habita a mansidão de seu corpo. Ela se pinta, se rabisca. Isso a transforma numa eterna tela. É claro que ela mal sabe seus motivos. Mas ela faz.
E entre todas aquelas palavras, todas aquelas imagens, os flashes, as músicas, os toques, tem a forma que teima em ficar cinza, como um plano de fundo de um desejo escondido. Uma vontade. É isso:
Uma folha arrancada do caderno, onde involuntariamente da ponta de seus dedos se desenham suas formas, seu nome, seus dedos. Mas não tem cor. Ele não tem um estojo de lápis de cor. Ainda.
Ela lembra dos dias, os dias passam o tempo todo. Talvez ela só tenha medo de ficar ali, sentada no escuro sozinha, esperando ouvir que aqueles motivos foram encontrados. Ah! Esses motivos. Que nos deixam sem chão no meio da noite esperando ouvir o que não vai. O que não quer.
E tem todos os outros motivos que fazem Alice querer que a porta se abra, e dela por entre a luz do corredor se desenhe vida, e que a vida adentre, se sente ao seu lado, e que cante... tem certas coisas que não sei dizer, e toque seu vazio com a maciez de quem sabe existir.
Porque Alice sabe que existir é suave.
Nenhum comentário:
Postar um comentário