terça-feira, 29 de setembro de 2009

Ela sempre volta.

Ela tinha que ir. Postou-se de pé, e imaculadamente se fez presente. Um pé, atrás outro pé. Atravessando a imensidão cinza do quarto. Ela nunca entendeu sobre física e vasos de flores, sempre achou que enfeitavam uma realidade. E eram enfeitados por ela.

Essa sua última recordação, a fazia cambalear sobre as finas pernas que sustentavam toda a irrealidade de sua vida. Esse filme de terceira categoria a fazia chorar passando pela rua onde um dia, o dia.

Ela oscila agora entre seus picos de criatividade e sua falta de percepção profunda. Onde teclado, dedos, letras se fundem e se confundem, fazendo-se dobrar. Os barulhos invadem-na transformando seus pensamentos em doloridos e pesados. De seus olhos, vitrais, vê-se o desabamento peça por peça de seu cenário de primavera.

Agora, ela passou pela porta, e sentada na poltrona vermelha e acolchoada, sua veste sagrada a espera. Se despe, vestindo. Se veste, despindo. E despida de seus personagens, isola-se.

Ela disse que não voltava mais. Essa conjugação mal feita, esse pretérito imperfeito, faz Adrienne sentar na janela, e com as mãos quietas e uma sublimidade absurda anunciar serena:

Deixe-me pular.

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