quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Malabarista.

Ela não se define.

Tem uma incurável mania de pedir desculpas, desculpas pelo que fez, o que não fez, o que não deveria ter feito, desculpas por existir, viver e ser. E depois pensa que isso não está certo, que não é desse jeito.

Entres as febres dos delírios, decidiu que era dia de admirar a árvore da praça. Andou um pouco, sentou-se perante ela, e lá ficou pensando que sua rigidez oca, guardaria em algum pedaço de seus vacúolos celulares sua imagem. Que mais quatrocentos anos não seriam suficientes para apagá-la.

Nesses momentos tenta conter as lágrimas, ela acha respeitoso. A liberdade. Todos esses mistérios a doíam de maneira tão profunda e voraz, que a impediam de se levantar, se impor, se expor. As outras pessoas não sabiam as profundas marcas que ela carregava por baixo da veste. O corpo inteiro vívido de experiências.

Ela não tinha consciência de si. A vida passava como da janela do carro em alta velocidade. Precisou de outra pessoa lhe dizer que não era viva. Que existia tão somente. Invadir-lhe de maneira impiedosa e somar seus nãos, mostrando que ganhavam peso. Se tornavam palpáveis. Ela sempre se perguntava em que momento perdera as rédeas de sua vida, isso deveria ter conserto. Era inutil tentar pensar nas coisas quando as coisas não queriam ser pensadas por ela. Os caminhos se desviavam de seus pés e tudo que ela conseguia era um vão de riscas intermináveis à sua frente.

O que ela precisava fazer era pegar uma risca, juntar à outra, desenhar sua sorte e transformá-las em formas que lhe dessem tom. A vastidão das riscas de seu corpo. Era doce, porém doída. Vez em quando se deixava caminhar por cima delas. E se desequilibrava, pensava desesperadamente: não me deixem cair em mim.

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