domingo, 11 de outubro de 2009

O tempo.



Das horas faz-se dias. E dos dias, por mais que os seguremos nas folhas do calendário, costuram-se os anos.
E os anos passam como se não víssemos a vida que segue.

De repente a gente se pega na frente de um álbum de retratos antigo, e descobre entre a poeira acinzentada e a rua sem asfalto um sorriso, a vida não era lá grande coisa, e crescer foi uma tarefa árdua, mas existia aquela coisa que chamavamos de esperança.
Esperança não sei do quê.

E agora, cético e sem cor, a gente se pergunta, o que era tão bonito? Bonita era essa mania de achar que de dentro de um poço vai sair uma fumaça encantada e nos levar por terras nunca sitiadas. A terra dos nossos sonhos.

Eu canso de pensar essas coisas enquanto passo pela avenida, não sei se é o frio que me deixa assim, ou se é o tempo quase perdido que passa por entre as faixas brancas pintadas no chão. Eu só cansei.

E aí descubro que passei tudo por quase nada. Hoje ninguém me traz café na cama pela manhã. E essa manhã que não vejo se descobre quando já estou sentada no lugar que não é meu. Então em meio a todos aqueles comandos, minha cabeça viaja pela imensidão dos caminhos e volta trazendo nos braços algo que demoro a reconhecer. São palavras, que me dizem indiscriminadamente: você acha que é feliz assim?

Eu penso mesmo que sacudir a cabeça e manter a concentração pode afastar toda essa festa delas. E isso não é hora de brincar. A graça acabou faz tempo. E eu percebo que o dia começou cinza, quando era melhor ter ficado no canto do quarto sem vontade de ser encontrada por palavras, por dias, por vidros espelhados que refletem uma imagem que não se reconhece nos retratos antigos.

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